HOJE ELA ME PEGOU
Não sou dada a insônia, mas hoje ela me pegou, já quase três horas da madrugada e eu aqui com cara de membro da “sociedade secreta dos melancólicos”, tentando dar um chega pra lá nesta minha alma vadia e sonhadora, que busca numa noite escura, fria, insone, sem lua e sem estrelas, romantismo e poesia, enquanto a verdade cuida de desmitificar o meu alumbramento . E por falar em verdade, Renan dizia que a verdade é uma nuança entre mil erros. Nuança... esta palavra me faz lembrar um poeta dinamarquês chamado Jens Peter Jacobsen, que escreveu pouco e viveu pouco também (1847/1885) conhecido como o poeta das nuanças, que, segundo Otto Maria Carpeux atuou discretamente, mas que teve uma influência literária imensa em todas as nações escandinavas na sua época e o fez de maneira tão discreta, ao ponto de essa influência e recordações se tornarem anônimas e deixarem esquecer o seu autor. Vá lá, não tão esquecido assim, já que estou me lembrando dele agora e justamente por conta de uma personagem sua descrita no romance “Niels Lyhne”, que feito eu, tem alma de poeta, vive versos, sonha em versos e acredita em versos mais do que qualquer coisa.
E, por ser assim, é que me calo diante de um poeta maior, feito Jacobsen, que escrevia versos como estes:
“ A vida um poema?…
Essa perseguição constante do próprio eu,
no rastro das próprias pegadas
- e em circulo, naturalmente…
Essa comédia simulada:
fingir que se atira a corrente da vida
e ao mesmo tempo ficar ali agarrado ao anzol,
pescando-se a si próprio neste ou naquele curioso disfarce…”