O Vencedor

Uma vez, quando estávamos conversando sobre o que havíamos vivido juntos, você me perguntou se era amor o que eu sentia por você. Eu hesitei, pensei um pouco, e respondi, usando uma frase que você incutou em minha cabeça: existe um amor pra cada época da nossa vida!

Veja: por que a gente não deu certo, já que dávamos tão certo, juntos!?

Nosso beijo encaixou desde a primeira vez, lá naquela rua sem saída da zona sul.

Será que não deu certo porque começou errado?

Nós tinhamos bandas em comum, livros em comum, e outras bandas e livros nem tão em comum assim e daí trocávamos conhecimento. As nossas transas eram fenomenais! Até o momento que adentramos aquele quarto de motel, eu nunca havia experimentado tamanho prazer em minha vida. Eu não tinha muita confiança em você, afinal, eu era o seu amante. Você ia embora, mulher mais velha, e encontrava o seu noivo e eu ia pra casa, ficar sozinho. Você não tinha muita confiança em mim, moleque mais novo, que tinha acabado de sair chifrado de um namoro com uma pessoa que gostava bastante, que poderia estar te usando pra descontar todo o ódio que sentia pelas mulheres.

Não deu certo porque inconscientemente nos hostilizávamos?

Nossos encontros às escondidas estavam ficando insuportáveis para ambos. Tinhamos vontade e desejo o tempo inteiro e ficar se escondendo pra saciá-los era deprimente. Claro, tinha toda aquela adrenalina de ser pego fazendo coisa errada, mas queriamos que o mundo visse que tinhamos, pelo menos por algumas horas, um ao outro. E ao mesmo tempo queriamos que todos se fodessem em suas vidas miseráveis e ausentes de vida, ponto, ninguém além de nós pagava as nossas contas, ponto, parágrafo. No começo foi desejo, tesão, pele. Depois veio o carinho, a admiração, a ternura. Rolou até ciúmes. Uma aventurazinha sexual não tem tudo isso, fica nos três primeiros e tem o acréscimo do nojo pós-gozo.

Então por quê diabos nós não nos entregamos?

Quem tinha que ter tomado a iniciativa, eu ou você?

Eu: "Porra, larga ele, fica comigo, a gente se dá tão bem, não tem porque ficar com o cara traindo ele, isso não é legal".

Você: "Porra, andei pensando, sabe, vou terminar meu namoro, já não tá dando mais certo, sabe!? Você vai ficar do meu lado?".

Você teria ficado?

Eu teria ficado!

O tempo passava, as coisas aconteciam, se tornavam mais incríveis e intensas e ninguém tomava essa iniciativa.

Eu confesso que conforme o tempo ia passando eu ia gostando de você e reprimindo isso. Meu machismo-liberal do inicio do nosso relacionamento foi se esvaindo e eu comecei a ficar puto com a situação. Me cansando de ser o outro. Me cansando de me sentir uma máquina de fazer sexo. Uma máquina de te dar prazer. Era bom, mas me sentia mal, porque eu te queria de outra forma agora, te olhava com outros olhos e... Ninguém tomou a iniciativa. E pra piorar acabei conhecendo outra pessoa.

Isso foi o fim pra você.

Não suportaria me dividir com outra pessoa (!), egoístazinha de merda. Sentiu na pele como eu me sentia, né, se fodeu. Terminamos.

Os meses passavam e eu te ligava, sentia muito a sua falta, da sua risada, você era idiota demais, ria de qualquer coisa, risada escandalosa e engraçada. Eu te ligava muito e sentia sua falta, e isso acabou te irritando. Já havia terminado o namoro, e estava engatilhando um relacionamento com um cara tão bom de pica quanto eu, e certo dia no telefone, enquanto eu dava uma reclamadinha básica da minha parceira, você foi à forra:

- É isso o que você merece por ter feito o que fez comigo, trouxa!

Fiquei estático. Depois fiquei mal. Depois fiquei puto, afinal, o que eu havia feito, caralho?, se quem namorava, era noiva, pretendia casar ano que vem, filha-da-puta, era você, e eu não tinha o direito de arrumar uma fodinha extra com você fazendo tudo isso!?

Eu sei que você se arrependeu disso, tudo bem, eu entendo, eu tinha desestruturado um pouco os alicerces do seu amor-próprio e isso ajudou você a colocá-los no lugar novamente.

Marcamos de nos encontrar muitas vezes, e todas elas você se esquecia que tinha marcado cabeleireiro, o rolê com a melhor amiga, a tosa da cadela, a coceira all day no cu, no mesmo dia. Eu, sobrava. Navio sem âncora, já te falei isso!

Daí apareceu esse seu novo namorado, e com ele, aparentemente, a vontade de fazer tudo diferente, não trair, essas baboseiras que vocês sempre inventam e que caem por terra com o tempo. Se você é do crime uma vez, sempre será!

Minhas experiências posteriores a nós explicam isso, mas essa é outra história.

As ligações ficaram cada vez mais esporádicas, ficamos cada vez mais sem assunto, a caixa postal do celular passou a atender e por fim, perdemos o contato.

Na época que estávamos juntos, firmes e fortes nas incertezas, eu não saberia dizer se te amava. Hoje eu posso dizer que te amei. Não esse amor que todo mundo compreende como um sentimento supremo e único. Não te amei, necessariamente, como mulher.Te amei como pessoa. Amei a sua inteligência, o seu senso de humor, o seu cheiro de Lovespell. Amei os seus olhos de Monalisa, amei o seu cabelo lindo. Amei o seu jeito de me pegar, de me beijar, amei sentir o seu maxilar saindo do lugar quando eu te beijava forte. Amei a sua capacidade de me fazer abrir os olhos pro mundo - e essa é a coisa que eu mais sinto falta. Eu odeio cerveja, mas amei-a por algumas horas no dia que esta foto foi batida, no último dia que nos encontramos. Amei o seu companheirismo, o seu senso critico, o seu tropicalismo. Tive alguns amores depois de você, um forte, outros nem tanto... Parece que é verdade aquela história de um amor pra cada época da vida.

A soma das minhas cicatrizes só me dá um resultado: você foi a melhor ÉPOCA da minha vida!

E eu sinto muito, mas MUITO a sua falta, mas não tenho mais o seu telefone...

Los Hermanos - O Vencedor

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Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 27/08/2010
Código do texto: T2461971
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