Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.

Tive um irmão que era desligado da família. Dificilmente ele aparecia para visitar os familiares.

Ele nunca compareceu em nenhuma festinha da família. Só tenho uma foto dele. Essa foto foi tirada em Minhas Gerais, onde ele fez o curso primário. Era costume, no grupo escolar, tirar uma foto quando ia receber o diploma do primário. Essa foto era dada para algumas pessoas da família. Um dia fui àcasa de minha tia e vi essa foto do meu irmão. Minha tia deu a foto para mim. Meu irmão morou algum tempo com minha família que morava na Vila Mariana.

Depois ele alugou um quartinho e foi morar sozinho em Santo Amaro. A última vez que falei com ele foi ao dia vinte e sete de abril. Ele me ligou e perguntou se alguém estava fazendo aniversário. Dia vinte e sete de abril é dia de Santa Zita, a padroeira das domésticas. Mas não era dia do meu aniversário. Faço aniversário no dia vinte e um de maio. Quando eu falei com ele eu disse que ele deveria ver meus filhos que ele ainda não conhecia. Ele me deu o endereço de onde ele trabalhava como garçom e me disse que eu deveria ir lá um dia para comer uma pizza. Passaram alguns meses, eu estava voltando do trabalho e encontrei com meu filho na rua de minha casa e ele me disse que ele tinha deixado um recado para mim.

Ao chegar a casa li o recado: “Geraldo faleceu.” Liguei para minha irmã para saber sobre o ocorrido e ela me disse a hora do velório. Uma sobrinha minha tinha encarregado providenciar tudo. Chegando ao velório fiquei sabendo que ele faleceu de infarto. Fiquei arrependida de não tê-lo visitado. Lembrei-me do texto bíblico: Se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé.