MULHER DEMAIS
MULHER DEMAIS
Laura Leal
Depois de muitos anos de casada, meu marido que me dizia amar, certo dia, quando eu voltei de uma viagem, ele havia saído de nossa casa... na minha ausência? Foi demais!!! Está certo que um relacionamento que havia se iniciado na adolescência se desgasta e a paixão e o amor ficam impregnados de mágoas por palavras e atitudes pouco gentis, mas, vamos combinar, não se termina nenhuma história de amor dessa maneira.
Levei algum tempo para colocar a cabeça no lugar e re-organizar minha vida, agora, como uma mulher solteira e responsável pelos filhos que nasceram dessa relação. Decidi, entre outras coisas, tornar - me uma mulher ainda melhor do que já era. Não deixei de pensar ... quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada e mais sábia, não aparece alguém que queira essa nova mulher,
Foi assim que enfrentei novos desafios no meu trabalho, terminei meu doutorado, comecei a caminhar todos os dias, frequentei o consultório de uma dermatologista, para diminuir os sinais do tempo, e comecei a ir a encontros religiosos.
Nos meses que se seguiram eu me tornei uma mulher em boa forma física, a mais calma e a mais espiritualizada do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, não aparecia ninguém que valesse a pena. Aí eu achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor para que alguém interessante se propusesse a caminhar ao meu lado.
Vendi minha casa e tudo que tinha dentro, comprei um apartamento na praia, decorei tudo brilhantemente, convidei meus amigos e amigas para minha casa, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim. Resultado: nada acontecia.
Participei de vários cursos, fui a congressos, tornei-me mais culta; mais vivida, mudei o corte do cabelo, li uns 50 livros, rezei para Santo Antônio todas as noites, tornei-me frequentadora assídua da praia, torrei no sol, andei sempre muito elegante e maquiada, e nada!
Escrevi inúmeros textos, aumentei sensivelmente o número de leitores no recanto das letras e nada aconteceu. Mas eu sou tinhosa! Eu não desisto fácil! E então resolvi: eu tinha que ser uma super, mega, ultra mulher para que chovesse na minha vida um homem na minha faixa de idade, ou mais velho, culto, inteligente, educado, carinhoso, romântico, estável financeiramente e ainda por cima disponível e o mais importante, interessado em mim.
O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz, mais bonita , mais mulher. Até que algo maravilhoso e absolutamente surpreendente aconteceu...
Apareceu O CARA!!!! Um cidadão do mundo! Seu perfil, além dos requisitos que eu houvera listado ainda tinha um up grade: fala seis idiomas.. e logo fantasiei ... vou ouvir palavras de amor em português, inglês, francês, italiano, espanhol e hebraico. Uau!!!! Porém, logo apareceu um problema ... a “geografia” não nos favorecia ... eu moro no Brasil, ele em Jerusalém. Mesmo assim, com um oceano, um deserto e dois mares entre nós dois, iniciamos sob o “império” da “química” : um amor, extremamente prazeroso, companheiro e cúmplice. E assim ficamos nos encontrando e “navegando”.
No último mês de Julho ele passou as férias em minha companhia, hospedado em minha casa. De repente, me vi casada de novo. E descobri que durante esse meu tempo de “solteirice” eu havia me tornado uma mulher tão independente e feliz que não gostaria de dividir esse espaço conquistado, a duras penas, com mais ninguém.
Ele foi embora... mesmo abalado emocionalmente com a minha descoberta... revelou que nosso relacionamento continuaria como estava ... eu fiquei ... sofrida e saudosa ... mas convencida do meu ponto de vista: casar ... nunca mais!!! ... ser amada ... é outro departamento ... e isso eu vou querer sempre.
Depois de sua partida, um belo dia eu acordei me sentindo tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que considerei ter me tornando mulher DEMAIS para ser absorvida novamente pelo universo masculino.
Nascemos e morremos sós...Por isso a nossa vida está em nossas mãos ...É uma grande bobagem deixar para o outro a responsabilidade de nos fazer feliz, porque somos totalmente responsáveis pela vida que optamos ter.