Para prêmios 2
O título
J. Carlos e o banco
Durante cinco anos Madalena, compadecida com a vida carente de J. Carlos, lhe pagou um título de capitalização. Todos os meses religiosamente lançavam da sua conta um valor, apoucado para ela, mas de significativa importância para J. Carlos. Amigo antigo da casa e muito trabalhador, mesmo sendo endividado, espécie de gaiato financeiro, desses que acreditam nas propagandas de desenvolvimento fácil, orçadas caprichosamente pelos sistemas devoradores de gente pelo arresto. Sistema que não leva em consideração a diferença de “dez reais” nas mãos de um miliardário e “dez reais” nas mãos de um pobre J. Carlos.
Desempregado que estava no interior do estado, por inteligência e necessidade, procurou o fundo de amparo aos trabalhadores, para início de pequeno empreendimento. Logo abriu as portas do Posto dos Correios na Vila Felicidade, 50 e com algum êxito, montou o negócio de selos e cartas no seio do povo pobre. Povo pobre como ele que também desejava o desenvolvimento agora pelo computador com antena em cima do barraco. Não demorou muito surgiu o homem da justiça com a polícia. Levantaram os poucos bens necessários ao trabalho diante das crianças e do povo aglutinado para ver desgraça. Choravam as crianças sem saber ao certo o que acontecia diante docaminhão que seguia deixando para trás os pedaços daquilo que
antes habitava o trabalho e a promessa.
J. Carlos prosseguiu na casa emprestada vendendo livros velhos, quinquilharias, revistas para adultos (vendiam relativamente bem antes da internet) numa espécie de sebo. Arrumou advogado. O Dr. Bermudinha Barata havia chegado de fora, mas sumiu, substabelecendo o processo. Como ocorre nestes casos o pequeno valor começou a fermentar e subir cada vez mais. Cifras iluminadas pelos juros que iam parar na casa dos grandes dígitos. J. Carlos passou de homem paupérrimo a inadimplente de milhões, além de todos os custos parasitários que habitam as desgraças.
De vida simples, avesso ao luxo dos ricos, esperou cinco anos para receber o valor do esperançoso título. Talvez se reerguesse.
No dia marcado ligou para o número de contato recebendo uma estranha notícia. Como não continha conta em banco e no título constava apenas a conta bancária de Madalena o caso ficou sendo considerado um erro crítico.- Indagou-lhe a mocinha do banco: O senhor tem conta em banco? Caso não tenha deseja depositar nessa conta que consta no título? - Ele pensou, repensou... Se Madalena está doando, ela recebe para mim e logo me entrega. A mocinha do banco insistindo, pedindo rapidez, intimidando, para seu conforto estamos gravando... Deseja depositar nesta conta? - Resolveu dizer que sim e disse que sim. - Era o tal erro crítico do qual passou a sofrer pela escolha. Devia ter decidido apenas pela retirada do valor através de ordem de pagamento. Mas como saber? Diante da fome, dos enganos e das crianças.
J. Carlos continua pobre, mesmo com benefício, oriundo de liberalidade nessa espera dos pobres, composta pela natureza do lucro. O lucro em cuja casa habita a sutileza perdulária.
Sombrio J. Carlos espera sem juros que lhe repassem os valores.
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