QUANDO SETEMBRO VIER

Rapazote ainda, no verdor dos meus dezenove anos, eu estava de namoro firme com a minha hoje mulher, Dona Mari, lourinha dos olhos verdes.

Corria o ano de 1959 e eu, estudante jovem e sonhador, líder estudantil, apreciava saraus literários nos quais havia também um tempo dedicado à dança, momentos em que curtíamos os inesquecíveis boleros da época, tais como Besame Mucho, La Barca, Ruega por Nosotros, Perfume de Gardênia, Vereda Tropical, Solamente una Vez, Una Mujer, Perfídia, Aquelos Ojos Verdes, Abrazame Asi, Que Será, Que Queres Tu de Mi, ao som de grandes orquestras.

O disco de vinil (long play) girava na radiola, a qual espalhava sons maviosos pela sala, os casais dançavam enlevados, agarradinhos, segredando juras de amor, o “Cuba-Libre” circulava entre os rapazes , as moçoilas sorriam e papeavam nos grupinhos animados, ostentando belos vestidos insuflados pelas anáguas, cabelinhos “Chanel”, sapatinhos de salto alto, era o mais puro charme. Bons tempos! ...

Em setembro, então, quando chegava a primavera, as festas e os bailinhos proliferavam. Sábado na casa de um, domingo na casa de outro, diversão e entretenimento não faltavam entre nós. O “glamour” e o romantismo daqueles anos dourados eram a tônica. Quem viveu a fase não se esquece jamais. E de baile em baile, de sarau em sarau íamos levando as nossas vidinhas em flor.

Por falar em setembro (aliás, ele está batendo às nossas portas), naquela época , em 1961, um filme estrelado por Rock Hudson e Gina Lollobrigida, uma belíssima mulher, fez o maior sucesso entre a moçada:- “Quando Setembro Vier”. Ah, quanta saudade! ...

Hoje tudo isso desapareceu, dando lugar às tais baladas, à música eletrônica, às gangues, à violência, às brigas, às drogas. O romantismo saiu de moda, a elegância foi substituída pelo despojamento, os jeans, as camisetas de malha, os tênis, as meninas se jogam nas disputas igualando-se aos rapazes, enfim, acabou o sonho, o lirismo e a poesia! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 25/08/10