O encantados de cães e seres humanos- Giselle Sato




 
Não  acompanho nenhum programa, nada contra, apenas esqueço e quando me dou conta a hora já passou, etc. Só abro exceção para o House que não é propriamente um exemplo de conduta médica. No entanto meus amigos sempre falavam  de um tal encantador de cães, a conversa ficava tão animada e surgiam tantas discussões  que comecei a me sentir completamente deslocada. Como eu nunca havia visto a série? Um absurdo, todo mundo que tem cachorro assiste!- minha amiga Alexia acentuou com prazer a parte do todo mundo.

Com a intenção de conhecer a atração e não ser mais uma alienada, assisti um episódio e logo de cara o sorriso ofuscante de Cesar Millan chamou minha atenção. O segundo ponto forte foram algumas teorias que ele pregou e aplicou com sucesso, tais como trocas de energia e procedimentos que estão na contramão da maioria dos livros sobre cães que eu já li. E foram muitos: vídeos, filmes e cursos para aprender como lidar com um pastor alemão que pensa que é gente e de vez em quando me tira do sério. Ok. Eu não consigo passear com ela, tento há quatro  anos e sou arrastada.

Joguei de lado a maledicência e dei uma chance para o novo, afinal não custava nada tentar as técnicas do Cesar mesmo não acreditando que simples toques funcionassem. Foi vergonhoso admitir o quanto fui mesquinha e admitir a derrota: Ela parou de pular em volta da mesa na hora das minhas refeições, um hábito horrível que consertei em uma semana. Os vizinhos ficaram maravilhados quando viram a obediência de Fiona,  calmamente sentada enquanto eu tiro o carro da garagem e ela só sai do lugar quando eu a chamo. Ela ganha um petisco como recompensa é claro, ainda está sendo treinada, mesmo assim é um grande avanço.

Esta experiência me mostrou que várias técnicas que eu julgava corretas, não funcionaram porque não tive paciência para insistir ou não eram o que Fiona precisava no momento. Tudo que eu deveria ter feito era estar atenta e interpretar as reações da cadela, ela pediu atenção e eu não vi, precisava de disciplina e eu não ensinei e como todo cão buscou um líder para seguir os comandos e achou um ser humano que a chamava de filhinha. Lógico que era um barco à deriva e passou a fazer o que bem entendia. Tive sorte porque Fiona tem um temperamento alegre e é  muito carinhosa, senão teria um animal agressivo e descontrolado em casa.

Nunca entendi porque somente eu não conseguia caminhar com ela, com outras pessoas ela era obediente e tranqüila.  Isto me deixava bastante irritada. Quando pegava a guia, já avisava pra ela não puxar, como se ela pudesse me entender e quando a coisa ficava insuportável, falava alto e voltava para casa.  Cesar ensinou vários donos a caminhar com seus cães, a forma correta de conduzir, o lugar onde a coleira deve ficar e estímulos para que eles não percam o foco. Fui assimilando e testando, quatro anos de maus hábitos não sumirão em uma semana, haja disposição! O bom é que estamos nos entendendo, fazer exercícios é parte essencial do programa de Cesar e se tive bons resultados até agora, vou insistir.

Nós seres humanos, tratamos nossos animais como extensão das carências, medos, insegurança e todas as neuras que carregamos. Despejamos nosso entulho e humanizamos os cães, chamamos de bebê e queremos amor e carinho, mas o animal também aprende a fazer birra, a ser mal educado, a pular nas pessoas, fazer chantagem e milhões de comportamentos que depois não conseguimos suportar.

Eu assisto Cesar Millan, ele realmente trabalha a troca de energia positiva e saudável com os cães e pelo que vi até hoje, ama e disciplina com a mesma intensidade. Não é tão diferente assim do nosso dia a dia, também queremos ser respeitados, preservar nosso espaço e manter a vida equilibrada e saudável. É tão difícil manter um comportamento único em ambos os lados, a vida profissional e pessoal poderia ter a mesma energia positiva se a carga emocional fosse trabalhada com persistência, cuidado e dedicação. Quantas vezes gritamos no transito, implicamos com os parceiros, não cedemos por pura teimosia, revidamos e libertamos a besta interior porque perdemos o controle? Muitas e muitas, mesmo sem querer. O dia a dia é complicado e o stress só tende a aumentar, aquela energia positiva que precisamos manter equilibrada pende de um lado para o outro.  

E quando abrimos a porta de casa envolvemos nossos animais na mesma freqüência, alimentar é uma obrigação, levar para dar uma volta é super cansativo e se o bichinho ficar pulando pedindo carinho corre o risco de ser enxotado para bem longe. Depois quando nos refazemos e tentamos consertar o erro, muitas vezes encontramos um cão magoado, agressivo e até mesmo vingativo.

Tenho uma amiga que viaja muito e deixa o cachorro com a empregada, a ração é a melhor, ele vai ao veterinário, faz banho e tosa e toda vez que ele consegue distrair a pobre moça, faz xixi no travesseiro da dona. Ela acha que o problema é o cão, mas sinceramente acho que o cachorro  quer chamar atenção. Cesar saberia o que dizer com certeza, quem leu seu livro e vê como ele atua sabe que é possível reverter esta situação. Depende apenas do dono. O trabalho que ele faz é reabilitar o cão e ensinar o dono a forma correta de agir. Soa estranho mas dá certo.

Recentemente conheci uma pessoa que mantinha seu cachorro preso no canil há quase dez anos, eu disse dez anos! O animal por trás da grade rosnava para qualquer pessoa e somente ela podia entrar e limpar o local.
 Após vários apelos os donos do cachorro resolveram fazer uma única experiência e solta-lo, este animal é bem alimentado, vacinado e é mantido preso porque tem um comportamento destrutivo com as plantas e hostil com as pessoas. A condição seria se o cachorro destruísse qualquer coisa, teríamos que repor e consertar tudo.
No dia em que ele saiu pela primeira vez, apesar de estar livre para correr no gramado, ele simplesmente permaneceu parado e sem ação. Depois voltou para o local que estava acostumado e não saiu mais de lá. Eles decidiram deixar a porta do canil aberta algumas vezes e ele nunca mais destruiu nada, não mexeu em plantas ou demonstrou qualquer sinal de alegria. Sempre com o mesmo comportamento retraído e  desconfiado, evita qualquer contado e assim continua até hoje. Imagino que  seja muito infeliz com uma vida inteira desperdiçada enquanto poderia estar trocando energia com um dono saudável.

Admiro muito o trabalho que o encantador de cães vem fazendo, ele me ensina diariamente a ser mais aberta aos sinais, manter a tranqüilidade para ter um ambiente agradável e um animal calmo e amoroso. O cão realmente é o reflexo do dono, no sentido que ele capta e reage aos estímulos que recebe, foi preciso enxergar um grande desafio em casa para compreender erros e acertos e  harmonizar da melhor forma possível.

Como Cesar sempre diz não há desafios impossíveis e todo animal merece uma chance de ser recuperado. Isto serve para tantas coisas, soa tão verdadeiro e justo que acabei adotando a filosofia de vida do encantador de cães e aplicando em outros setores precisando de conserto.







Fiona
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 25/08/2010
Reeditado em 27/08/2010
Código do texto: T2459273
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