Acordando para a Realidade

Levanto-me sem saber onde estou. E também não sei em que dia, mês e ano. Eu sei quem eu sou. Não sei para onde vou. Ou eu não quero lembrar-me de tudo isso que está acontecendo, ou eu realmente não sei onde nem quando estou. Se eu não quero lembrar é porque o que estou vivendo não vale a pena lembrar. Sofrimentos?Preocupação com o mundo e com que me rodeia diariamente, preocupado se vou conseguir aquilo que planejo. Medo?Insegurança? Não sei, pode ser tudo isso, ou não. Pode ser algo muito pequeno que me irritou e que faço questão de esquecer. Mas algo tão pequeno não seria capaz de provocar uma amnésia forçada, se é que posso definir desta forma.

Depois de levantar e ter pensado tudo isso estando sentado na cama, eu saio do lugar que estou através de uma porta que dá numa escadaria, e nesse caso só posso descer. Desço um, dois, três lances de escada e nada dela acabar, num intervalo entre um lance e outro, um homem aparece parado. Ele chama pelo meu nome, eu ouço e fico sem reação e continuo descendo. Após três lances de escadas começa a aparecer sinais de interrogação parados no ar, algo bem surreal. A escadaria não tem fim, é como se eu descesse do céu ao inferno, mas como posso descer do céu, se eu nem sei o que está acontecendo. É muito estranho e não tem sentido. Vale lembrar que a escada muda constantemente, tem vezes que ela é bonita, outras vezes está caindo aos pedaços e nessa escada eu quase não consegui descer. A escada que estou agora tem degraus curtos os quais devo descer com cautela, senão eu caio. De repente vejo uma luz que está nos lances mais abaixo de mim, deve ser o fim. Entre o penúltimo e o ultimo lance de escada, aparece um ponto de exclamação e um de interrogação, demonstrando uma surpresa acompanhada de dúvida. Saio pela porta e a luz está mais forte agora. O clarão quase me cega e quando a luz diminui a intensidade eu posso abrir os olhos e nisso vejo o mundo todo na minha frente.

Todos os tipos de crime, todos os tipos de bondade, todos os conflitos, todas as más e boas situações que se passam pelo mundo afora. Só observo e minha vida eu posso ver nesse todo. Vejo todas as vezes que errei, todas as vezes que acertei, quando magoei, quando levei felicidade para alguém e também quando tudo virou do avesso e depois disso não vi mais nada, não vi mais ninguém, não vi mais o mundo na minha frente. A porta se fecha e aquela escadaria não existe mais, agora existe um corredor o qual não vejo seu fim. Nesse corredor há portas, e cada uma há algo escrito. São as minhas memórias. Só abro as boas memórias, mas se eu quiser o que está acontecendo, terei que abrir as memórias desagradáveis. Abro-as então e pude perceber que o que me fez esquecer tudo foi o mundo que eu estou vivendo, comigo está tudo bem pelo menos, mas o que me incomoda é o mundo. Atitudes básicas do ser humano são vistas como qualidades: honestidade, compaixão e bondade, deveriam ser algo normal, mas não são. E quando se age assim, há pessoas que por incrível que pareça estranham, criticam, pois não estão acostumadas; o mundo em que elas vivem o normal é o interesse, ganância, cobiça, inveja. Detalhe que há mais atitudes negativas do que positivas. Não quero me adaptar a esse estilo, eu não vou me adaptar e ninguém me forçará e ninguém conseguirá provar que desse jeito estou bom, eu prefiro continuar sem saber onde acordei e quando acordei do que viver essa realidade

24/05/2003

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 25/08/2010
Código do texto: T2459042
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