Para prêmios 1
O assassino
Nesta época do ano surgiram muitos sabiás no telhado que fica embaixo do grande abacateiro. Gosto de sabiá. Do canto e da plumagem marrom e cor de tijolo. Os olhos do sabiá guardam especial ternura humana de mãe. Chego a tocar com meus olhos a cor vermelho-ferrugem do seu peito.
Não é possível que exista assassino de sabiás, mas existem. São meninos que tentam provar a si próprios uma grandeza imperial sobre a natureza. Uns acabam com o passar dos anos feridos pela própria maldade - resultando em homens de bom coração. Às vezes a infância anuncia a perversidade do adulto.
Tenho trilhado em busca desse assassino cruel para com os sabiás do quintal e não encontro. Contorno a casa e nada. Apenas no mesmo lugar frio jazem dois filhotes desses pássaros inertes na grama verde. Que triste natureza! Como fracassa a divindade em apoio a esta estranha cadeia alimentar do mundo... Procuro dar um fim digno aos restos cavando um buraco como se fosse uma tigelinha no chão. Lá permanecem sepultados como se fossem novamente ovos para o trabalho da terra. Do pó viemos e ao pó voltaremos, concluo, mas logo decido que poderíamos retornar para as águas do mesmo modo.
Sigo o entardecer com rituais bem elaborados de velho viúvo. Procuro a poltrona macia para assistir a tragédia humana como espetáculo durante o noticiário da televisão. O gato doméstico com seu estilo de algodão e navalha pula religiosamente para o colo. Tem a boca vermelha de sangue e o olhar indiferente dos assassinos cruéis.
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