Já imaginaram existir a possibilidade de estarmos em dois sítios ao mesmo tempo? Já fizeram esse exercício de ficção científica, utilizando uma qualquer geringonça de alta tecnologia que vos permite estar num local e ter experiências sensitivo-cognitivas de um outro? Pois bem, eu consegui a proeza de facto. Com a diferença de que não necessitei do engenho complexo. Foi fácil. Foi com um livro. E chama-se “Caderno Afegão” da Alexandra Lucas Coelho.
Com este belo livro de capa dura estive de férias na Serra do Açor e em simultâneo visitei o Afeganistão. Não acreditam? Podem comprar a obra e comprovar o fenómeno por vós próprios.
A ALC escreve regularmente no Público. Entre vários excelentes cronistas ela sobressai. Não só pela qualidade da escrita mas pelas viagens que faz. Alexandra vai onde muito poucos e quase nenhumas vão. Porque como diz, “não há nada a fazer”. E graças a este optimismo-fatalismo podemos conhecer um mês de Afeganistão como nunca sonhámos possível de tal maneira estamos condicionados pela ladainha de mortos e feridos dos noticiários diários.
A técnica de descrição de ALC é muito especial. Frase muito curta, frase muito curta, frase curta, frase curta, frase média e frase longa. E são estas as pinceladas que compõem as imagens que ficam. Perseguem-nos durante o resto do dia e sonhamos com elas à noite. Muitas noites. Muitos dias.
Lagos de cor intensa onde só um milagre explica a sua existência como os de Band-E-Amir. Minaretes colossais em Herat. Cardamomo. A cor ocre por toda a parte. Azul desbotado de burka. Jalalabad. Tiros. Jardins com rosas de todas as cores. O cheiro a lixo. Homens de olhares furiosos a contemplarem a mulher-escritora que não devia estar ali. Azulejos deslumbrantes no santuário de Gazar Rukh. O poeta Jami enterrado debaixo de uma árvore de pistachos. Talibans a invadir uma prisão. Talibans à solta em Kandahar. Mulheres bordadeiras a sorrir. Soldados das forças internacionais. Romãzeiras em Cabul. Pão duro ao pequeno-almoço. Chá amargo. Kebab. Contractors estrangeiros.
É impossível fazer um resumo honesto. Tem de se ler o livro todo. E fica-se rendido à autora.
Alexandra tem estado no México. Tem escrito com regularidade sobre as cidades perigosas por onde tem passado, no jornal “O Público”. Ainda guardo um suplemento sobre a cidade Juarez. Não sei se leia ou espere pelo livro com a viagem completa.
Espanta-me a coragem desta mulher. E depois dessa sensação inicial percebo que ela é mesmo assim: vai onde tem de ir. Onde é imprescindível alguém ir. Onde muitos lhe dizem ser impossível ir. Mas ALC sente e sabe que é importante dar a conhecer ao mundo a verdade que mais ninguém mostra. A realidade escondida dos holofotes do mundo. Onde outros só vão a troco de muito dinheiro, Alexandra vai por dever e paixão.
Porque não há nada a fazer. Diz no fim do "Caderno Afegão", na parte dos agradecimentos, que teve muita sorte. Espero que tenha sempre muita sorte. Sinto-me cheia de sorte por poder ler os seus livros.
Com este belo livro de capa dura estive de férias na Serra do Açor e em simultâneo visitei o Afeganistão. Não acreditam? Podem comprar a obra e comprovar o fenómeno por vós próprios.
A ALC escreve regularmente no Público. Entre vários excelentes cronistas ela sobressai. Não só pela qualidade da escrita mas pelas viagens que faz. Alexandra vai onde muito poucos e quase nenhumas vão. Porque como diz, “não há nada a fazer”. E graças a este optimismo-fatalismo podemos conhecer um mês de Afeganistão como nunca sonhámos possível de tal maneira estamos condicionados pela ladainha de mortos e feridos dos noticiários diários.
A técnica de descrição de ALC é muito especial. Frase muito curta, frase muito curta, frase curta, frase curta, frase média e frase longa. E são estas as pinceladas que compõem as imagens que ficam. Perseguem-nos durante o resto do dia e sonhamos com elas à noite. Muitas noites. Muitos dias.
Lagos de cor intensa onde só um milagre explica a sua existência como os de Band-E-Amir. Minaretes colossais em Herat. Cardamomo. A cor ocre por toda a parte. Azul desbotado de burka. Jalalabad. Tiros. Jardins com rosas de todas as cores. O cheiro a lixo. Homens de olhares furiosos a contemplarem a mulher-escritora que não devia estar ali. Azulejos deslumbrantes no santuário de Gazar Rukh. O poeta Jami enterrado debaixo de uma árvore de pistachos. Talibans a invadir uma prisão. Talibans à solta em Kandahar. Mulheres bordadeiras a sorrir. Soldados das forças internacionais. Romãzeiras em Cabul. Pão duro ao pequeno-almoço. Chá amargo. Kebab. Contractors estrangeiros.
É impossível fazer um resumo honesto. Tem de se ler o livro todo. E fica-se rendido à autora.
Alexandra tem estado no México. Tem escrito com regularidade sobre as cidades perigosas por onde tem passado, no jornal “O Público”. Ainda guardo um suplemento sobre a cidade Juarez. Não sei se leia ou espere pelo livro com a viagem completa.
Espanta-me a coragem desta mulher. E depois dessa sensação inicial percebo que ela é mesmo assim: vai onde tem de ir. Onde é imprescindível alguém ir. Onde muitos lhe dizem ser impossível ir. Mas ALC sente e sabe que é importante dar a conhecer ao mundo a verdade que mais ninguém mostra. A realidade escondida dos holofotes do mundo. Onde outros só vão a troco de muito dinheiro, Alexandra vai por dever e paixão.
Porque não há nada a fazer. Diz no fim do "Caderno Afegão", na parte dos agradecimentos, que teve muita sorte. Espero que tenha sempre muita sorte. Sinto-me cheia de sorte por poder ler os seus livros.