Das viagens e da luta
Um dia tu vai me dar a mão e me acompanhar por onde eu for. Onde iremos? Onde houver paz, museus históricos, danças nas ruas e as quatro estações bem definidas, da prosa sem pressa e da poesia dispersa, entre o cantar e o contar, entre o cantor e o catador.
Te darei a mão e te acompanharei se acaso for, se o caso vir a escolher por este andar. Porém, veja-me bem, além, meu bem, além! Teu espírito traz em si a essência do viajante, do mochileiro com as poucas bagagens e várias, variadas línguas, comidas e culturas.
Vejo isto em ti e me alegro, mas preciso de mais. Vejo que está e estará sempre a andar, a caminhar, nunca parada. Mas se demore cá comigo, minha pequena, se sente a esta sombra, que à sombra do meu sentir te direi sobre minh'alma também.
Feche os olhos e veja, veja que tenho destes anseios também. Mais que querer, preciso conhecer - mais do que o mundo, quero conhecer as pessoas. Suas histórias me contam mais do que telas e paredes milenares, seus sorrisos me dizem mais do que os livros e os restaurantes, me dão o norte para superar as lágrimas daqueles que hoje não sorriem. Ainda!
Tu achou, quando me envolveu pela primeira vez em teu beijo e me chamou de teu, tu acreditou que eu te traria a paz, ao me tornar teu par. Vê e me desculpa, mas você estava errada, minha menina, pois te trouxe uma espada - e te convidei pra luta.
Você riu e eu te achei ingênua, mas hoje te acho bastante esperta: você estava certa no começo, é sim possível o paradoxo de cultivar contigo, ao mesmo tempo, a paz e a justa-raiva.
Por isso passei a te amar, pois vejo em ti essa esperança que até então não havia encontrado. E foi o primeiro passo, temos tantos pela frente, mas te falo das viagens e tu me diz que aqui já viajo a divagar sonhos e planos, entre vagalumes, dragões e moinhos de vento.
Sorrimos então, pois a noite está tão bonita, como naquela em que lhe pedi em namoro, tu com teu vestido florido, eu com meu branco tênis preto em plena praia, tendo a lua a iluminar, como milhares de vagalumes ressonando o mesmo vôo, em poesia.
Ando a pensar que somos todos humanos, mas não é garantido a todos o direito de ser humano. Isto é, de se viver com dignidade, auto-confiança, respeito e orgulho de ser quem é, de viver onde vive, de dançar e cantar o que convir, de não se envergonhar quando chega o fim do mês.
Viajarei, primeiro, para dentro de mim mesmo, depois de minha cidade. Buscarei a superação destas opressões, vivas nas consciências e nas realidades. Nesta caminhada, tu criará a paz, superará injustiças, mas não verás museus históricos nestes cenários de opressões e desigualdades - mais que isto, se me der a mão, te convidarei para algo maior, minha pequena: te convido a construir a história, do jeito certo!