CAPÍTULO XX - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro

XX

Nos outros,

Todo mundo sabe,

O coração tem moradia certa:

Fica bem no meio do peito.

Mas comigo a anatomia ficou louca:

Sou todo coração.

(Maiakovski)

Nos próximos capítulos tentarei esboçar um rápido retrato das emoções que permeiam a greve, tanto as boas quanto as ruins.

Dizem com algum acerto que as emoções não são totalmente comunicáveis. Isso ocorreria devido ao fato de que cada indivíduo as tem e as percebe num grau bem específico, num ritmo e num nível de qualidade bastante diferenciado que varia de pessoa para pessoa. No entanto – e independentemente de serem ou não mais ou menos transmissíveis através da linguagem e do contato pessoal – esse é o único campo e caminho que dispomos e que nos resta e o nosso objetivo neles deve ser o de tentar superar o que nos retêm ou nos impede a comunicação.

Dito isso, cabe lembrar que as emoções na greve são muitas e várias. Vão desde as maiores alegrias até as mais profundas tristezas, raivas e decepções. Todas elas, no entanto, são sempre muito coloridas como os desenhos e as pinturas de crianças felizes.

Jamais essas emoções se apresentam opacas ou através de cores frias: estão constantemente contornadas e recheadas de luz e é comum que se expressem nos tons mais vibrantes que conheceis. Seguindo por esse caminho, muitas vezes encontraremos emoções completamente vermelhas, sentimentos exageradamente verdes, tristezas que se estendem desde as cores púrpuras às mais amarelas e raivas inocentemente azuis, tudo isso misturado na gloriosa bandeira que se espicha vitoriosa e enfeita o clarão do céu.

São ainda emoções que se movimentam de um lado para o outro e de um extremo ao outro, num vai-e-vem explosivo que ao mesmo tempo produz medo e energia no coração dos trabalhadores: eu, por exemplo, que comecei a greve sem muitas esperanças, me encontro bastante confiante agora. Hoje já não estou tão fraco e nem tão só quanto no primeiro dia.

A greve nos traz e nos convida a viver toda essa riqueza. A greve nos oferece companhia. Ela nos indica que o objetivo dela já não se prende unicamente à mera aprovação de um plano de cargos e salários. Isso é de fato importante e fará com certeza a grande diferença na vitoria final. Mas não é tudo.

A vitória nesse caso é também outra totalmente diferente. Ela é maior que isso e muitas vezes se encontra encolhidinha no fundo do peito de cada um de nós, mais exatamente nos nossos corações. A vitória da greve é a greve em si, é a liberdade com que você pôde ou conseguiu abraçar o movimento no seu peito; é o jeito todo especial com que alguém analisa o movimento das peças e pedras no tabuleiro da negociação e os riscos que se vão formando e se oferecendo continuamente diante dos seus olhos e do seu caminho; e é ainda a forma como um sujeito se dispõe a se amparar e a amparar o seu amigo e a sua companheira com o mesmo fervor e respeito com que normalmente buscamos amparar o amor nosso de cada dia. É a vitória conjunta do eu e do coletivo, como um arco-íris colorindo a imensidão azul.

São um pouco assim as emoções da greve. Elas são talvez demais ou de menos – mas nunca completamente frias e opacas - e é provável que a língua humana não seja realmente dotada de rapidez e agilidade suficientes para registrá-las e transmiti-las seja para a nossa amada mais querida ou para o nosso melhor companheiro.

Luís Antônio Matias Soares
Enviado por Luís Antônio Matias Soares em 25/08/2010
Código do texto: T2457985
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