NA HOLANDA (segunda parte)

A segunda vez foi num feriadão de Finados. Saímos de Paris na quarta-feira lá pelas dez da noite, num ônibus velho apinhado de estudantes de várias partes do mundo. Não era excursão, acho que o ônibus pertencia a um holandês meio esquisito, que costumava fazer esse tipo de transporte, viagem de ida e volta a preços módicos. De vez em quando, bem na hora que todo mundo ia adormecer, ele pegava o microfone e começava a dar uma de guia, num francês enrolado que a gente nem entendia direito. Como era de noite, não vimos nada da paisagem, a não ser algo que chamou a atenção: atravessamos a Bélgica rodando por estradas iluminadas. Isso mesmo, havia postes com luz acesa ao longo do caminho!

O dia ainda não havia clareado quando meu marido e eu descemos à beira da estrada, em Haia e os outros continuaram. Que choque! Frio intenso e vento cortante. Mas estávamos bem agasalhados e passamos o dia rodando pela cidade. Na visita a um museu, meu marido comentando uma obra, ao gesticular, esbarrou o dedo na moldura de um quadro. Adivinhem o que aconteceu... O alarme imediatamente começou a soar e não sei de onde surgiram vários seguranças... Embora o ambiente estivesse aquecido, eu gelei. É agora que vamos em cana... Já pensou? Brasileiros disfarçados de estudantes tentam roubar quadros em Haia! Pela minha cabeça passavam cenas horríveis, nós dois na delegacia tentando explicar, em inglês, que gato não era lebre, que não éramos gatunos... E se fôssemos deportados? Lá se iriam por água abaixo nossos estudos na França...

Felizmente nada disso aconteceu. Ninguém disse nada. Continuamos a andar pelo museu como qualquer visitante, com a diferença de sermos disfarçadamente seguidos por três guardas, que nós disfarçadamente fingíamos não ver...

Passamos a noite no Albergue da Juventude e no outro dia seguimos para Amsterdã, onde nos hospedamos num hotelzinho barato que ficava num prédio cheio de escadarias com degraus altíssimos. E foi no café da manhã que vi uma coisa que me intriga até hoje: ao lado de cada xícara de café havia uma leiteirinha mínima contendo o que me pareceu ser creme de leite. Ou seria pequena quantidade de leite gordo?... (gado holandês, na Holanda, deve dar leite muito bom hehehe). Havia também pão preto e uma enorme gamela repleta de müsli, praticamente desconhecido por nós, que ainda estávamos longe do hábito de consumi-lo.

Passeando pelas ruas cruzamos com amigos brasileiros que também tinham ido naquele ônibus. Domingo à noite voltamos todos juntos acompanhados do holandês maluco, que ao raiar do dia nos entregou sãos e salvos, prometendo outra viagem para não sei quando...