Cegueira de cansaço
Certa vez li em um muro uma passagem impactante com os seguintes dizeres: “Quanto custa sua indiferença? Uma vida sendo escravo?”. Essas palavras entraram em minha mente e permaneceram. Duas perguntas que me inquietaram e me fizeram refletir por vários instantes. Intrigantes perguntas em um momento de protesto, de um grito que fora repreendido e agora estava ali estampado, tatuado em “alto e bom tom” para que as demais pessoas vissem. “Disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sente, teu grito acordaria não só a tua casa mais a vizinhança inteira”.(Há tempos-Legião Urbana).
Horas e horas de trabalho, transporte público precário, cansaço somado com mais cansaço, sobrecarregando corpos e mentes trabalhadoras, tirando-lhes a condição de mudar, de estudar e progredir, porque o tempo que lhes resta utilizam pra deitar suas cabeças no travesseiro e esquecer do dia exaustivo que tiveram. “Há tempos tive um sonho, não me lembro (...)” Já estamos acostumados a não termos mais nem isso” (Há tempos-Legião Urbana) .
Necessitam pagar suas contas para o governo e olha que ironia, o governo continua em “débito” com todos nós. Impostos, taxas, incontáveis números e mais números que não se revertem para o bem da população, tanto tempo perdido. “Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo e tão sério, e selvagem!” (Tempo perdido-Legião Urbana).
Tanto dinheiro gasto pra quê e em quê? Se todas as áreas mais importantes para uma vida de qualidade estão em estado de calamidade nos quatro cantos do nosso País. Entendo a indignação desta escrita como tatuagem, feita com agulha e tinta na “pele” da cidade. Frases como essa não podem passar despercebidas, não podem ser ignoradas pelos nossos olhos que o cansaço tenta cegar.
P.S: as citações feitas pertencem as letras: “Há tempos” e “Tempo Perdido” da banda Legião Urbana...