Só você pra me explicar
Uma das coisas mais chatas da vida, com certeza, é ser acordado durante um sonho. Fale a verdade!
E eu pude ter essa sensação há algum tempo. Eu estava sonhando um daqueles sonhos bem típicos de todos nós, onde as coisas são completamente desconexas, mas que nos garantem algum entendimento sobre algo em particular ou até mesmo mais abrangente.
Esse sonho era bem louco mesmo, eu estava acompanhando a apresentação de dois jovens universitários sobre o descobrimento do interior do homem.
Era uma espécie de banca de apresentação de monografias, e mesmo sem eu entender o porquê de eu estar lá, eu acompanhava todo aquele desenrolar.
O professor chamou o primeiro aluno e pediu que ele discorresse suas impressões.
O aluno iniciou o seu discurso falando que o ser humano era o ser mais fantástico que ele pudera conhecer. Ele narrou fatos e acontecimentos de maneira bem insólita, como se ele fosse alguém que tivesse tido o privilégio de ter feito uma viagem ao interior do homem, literalmente, ou seja, alguém que ficou maravilhado com o que descobriu.
Ele argumentou que o ser humano tinha uma capacidade enorme de adaptação, de superação e que o ser humano detinha de todas as ferramentas necessárias para o seu bem-estar e que o fato de que ele não vivesse a plenitude que sua capacidade proporcionaria, era o fato de que ele não entendia que precisava de um mentor.
Eu fiquei maravilhado com aquele discurso e pareceu-me que o professor também, mas como ele devia manter-se imparcial, não ousou comentar nada além de parabenizar a apresentação e chamar o outro aluno.
O segundo aluno, de maneira bem eloquente, iniciou sua apresentação como alguém que também tivera a experiência de uma viagem insólita ao interior do homem. Mas esse aluno apresentou-se decepcionado com o que descobriu. Ele discorreu que o homem era um ser cruel e dotado de malícias e perversidades. Ele citava que o homem era mestre em esconder seus sentimentos ruins e que, na maioria das vezes, o homem só expressava os sentimentos bons se fosse sob a nuance de adquirir algum benefício.
A vontade que eu tive foi de calar a boca daquele aluno, mas as argumentações e a forma como ele apresentara o seu discurso era de alguém que detinha conhecimento e tocava em muitas feridas e defeitos que tentamos esconder. Depois de uns vinte segundos, eu comecei a crer que aquele aluno poderia estar certo.
O professor parabenizou esse aluno e disse que a turma que acompanhava as apresentações deveria receber uma conclusão sobre tais discursos - afinal de contas, um aluno contou uma saga maravilhada sobre a capacidade e o poder do ser humano, enquanto que o outro discorreu sobre os defeitos do ser humano.
Realmente era um embate difícil e só alguém com muita sabedoria para dar um veredicto.
O professor iniciou o seu discurso dizendo que...
- Luiz? Luiz? Acorde. São 6 horas da manhã, você está atrasado para o trabalho.
Eu não acreditei que fui acordado antes de eu ver o sonho concluído. Que sensação horrorosa, me senti um incapaz, literalmente.
Mas o pior de ter sido acordado em meio ao sonho, foi não ter sabido a resposta correta das perguntas pertinentes aos discursos dos alunos:
Afinal de contas, quanto mais nos aprofundamos no conhecimento do ser humano nos maravilhamos ou nos decepcionamos?
Tô pensando nisso até agora...