Público sim, mas quem disse verdadeiro?

Desde que se brincou de amor na terra a vida nunca mais foi a mesma. Homens e mulheres elegeram um dia para brincar de ‘namorado público’: o Dia dos Namorados, ou do namoro público, 12 de junho, exclui um personagem histórico da era pós-moderna, e de todas as eras: o solteiro. Aquele sujeito –homem ou mulher - que por uma ou outra razão não namora, não casa, não noiva, não aparece no dia do namoro público. Ele não pode sair porque todos os bares, todos os restaurantes, todos os lugares bacanas estão enfeitados com luz de velas, com pétalas de rosas, com flores e aromas, esperando os namorados públicos: alguns que recém estão se conhecendo, embalados pelo otimismo do período. Outros que muitas vezes vivem ‘364 dias de gato e rato’, mas no dia 12 de junho estão lá: ocupando as cadeirinhas dos restaurantes onde os solteiros não entram por que à primeira vista local destinado a namoro público tem que estar ocupado com casais.

Imagina se um solteiro invadisse o picadeiro do namoro público? Seria, no lugar de jantar a luz de velas, um jantar a velas e peras. Mas não a pêra fruta não. É o pera de perai que eu to na frente tchê!!!!.

No lugar de um longo beijo poderíamos descrever cenas de um observa beijos. Entre os casais de mãos dadas e a troca de um “carinho público”, encontraríamos casais entediados e um solteiro conversando, rindo, animado, com aquela cara de felicidade enquanto sorri informando “fiquem à vontade, eu não to olhando!”.

Talvez seja por esse motivo que nenhum casal convida um solteiro para sair no Dia dos Namorados. Seria o mesmo que reservar a suíte de um motel e levar a sogra junto – porque tudo de ruim sempre sobra para a sogra de alguém? Mas a cena é agradável: você chega para seu amor e diz vamos fazer uma farra amor, você, eu e sua mamãe?

Família é bom, amigos são maravilhosos, mas, chega um momento na vida que eles precisam ficar. Creio que esse momento é o Dia dos Namorados.

A irmã não te leva de jeito nenhum. A filha então, nem pensar, O filho? Menos. Se bobear até a mãe tem um encontro e você, nada! Eita que vidinha mais ou menos a sua hein? Só descobre o quanto é insignificante no Dia dos Namorados - Ai se julga discriminado pelo sistema, promete que vai fundar um clube de solteiros e, nada. Passa o ano e lá vem mais um dia dos namorados. Mais um dia de pão e de circo, enquanto nos labirintos da vida impera a solidão, o abandono do incapaz, a prostituição infantil, a violência doméstica e, claro, na política, a farra disfarçada em circo: agora com a polêmica em torno da lei do sexo. Mas quem se importa com isso? Vamos beijar, afinal sábado é Dia dos Namorados.

Aperte o replay, não é sonho. Você está mesmo no Brasil – onde tudo que é público é notório, sem necessariamente ser verdadeiro.

Edna Lautert

Jornalista – membro das comissões de Imprensa, Orçamento e Patrimônio, e de Publicação da Academia Santo-angelense de Letras.

Edna Lautert
Enviado por Edna Lautert em 23/08/2010
Código do texto: T2454413
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