Eu Chorei Pela Última Vez Nesta Vida


Sexta-feira, dia de almoçar com os amigos e o programa da vez foi num restaurante próximo ao nosso trabalho, onde servem um sortido bufê de feijoada, acompanhado de boa música ao vivo. Um grupo de cordas e percussão interpretava sambinhas, o que tempera muito bem o prato mais tradicional da culinária nacional.
Num determinado momento, tocaram Chorei, de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro. Gosto da música e acompanhava a cantora, cantarolando com ela, quando parei no trecho:
“Chorei
Porque vinha trazendo minh'alma sentida
Eu chorei pela última vez nessa vida
Para nunca mais chorar”
Dei-me conta de que isso é algo que não desejo, nem para mim, nem para ninguém. Isto é, é claro que eu também não desejo tristezas. Mas, assim como é certo que haverá alegrias, elas também virão. Pessoas queridas nos deixarão, oportunidades serão perdidas, sofreremos ou testemunharemos injustiças, traições e mágoas. E, que máquina maravilhosa nós somos... nessas horas, as dores da alma transbordam pelas janelas dos olhos, para não nos afogar.
A única forma de nos protegermos dessas coisas é deixando de viver. Se não nos envolvermos com as pessoas, não seremos deixados, traídos ou magoados por elas, se não alimentarmos sonhos e expectativas, não seremos surpreendidos pela sua não concretização, a inércia nos poupará das injustiças. Mas, convenhamos, que vida terrível deve ser a de quem não ama, não sonha, não age. Pode mesmo estar certo de que não terá motivos para chorar, mas também não os terá para sorrir.
Sei não... Posso até estar errada, mas o que quero mesmo é viver todas as emoções que a vida me trouxer, inclusive as tristezas. Pelo prazer de um reencontro, arriscar-me às despedidas, pela esperança das quimeras, enfrentar as agruras dos pesadelos, para poder rir às gargalhadas, deixar-me desaguar.
Os amigos, intrigados com meu repentino silêncio, querem saber o por quê. Penso se devo responder, filosofia não combina com feijoada e sambinhas. Nem mesmo filosofia de boteco. Brinco:
- “Quem canta seus males espanta”, mas como eu canto muito mal, decidi parar antes que acabasse espantando vocês também.
Eles riram, concordando, os sacanas... e a música do Gonzaguinha que tocou em seguida parecia ter vindo sob encomenda:
“É a vida, é bonita e é bonita!
No gogó!!”




Imagem daqui.