A DOR NO LUTO E NA MELANCOLIA
 

 



 
A vida não poupa ninguém. Sentir dor faz parte do jogo e perder, em algum momento, é uma das possibilidades mais reais de nossa jornada, afinal, a única certeza, além da morte, é a impermanência das coisas. Por isso, o movimento rege a existência. E nas mudanças irreversíveis nos deparamos com perdas e danos.

Sempre que perdemos há duas possibilidades para o caminho da dor: o luto que resultará na elaboração da ausência ou a melancolia, estado onde o valor de uma pessoa se confunde com o que foi perdido.

Existe um tempo para a dor representar o vazio instalado no ser que sofre. No luto, o mundo perde a graça. A sensação de que os sons desaparecem. O silêncio fere mais os sentidos do que um grito.
Aos poucos, a pessoa enlutada entende que precisa seguir, olhar para a frente e se encaminhar para a vida.

Outros, no entanto, não conseguem elaborar a dor do luto porque se confundem com aquilo que foi perdido. Nesta mistura do eu ao vazio, o que perde a graça não é mais o mundo, como no luto, mas a própria pessoa e seu valor mergulhados no círculo vicioso da melancolia. 

A dor percorre trajetórias distintas nestes dois estados da alma. No luto, a pessoa entende que perder dói, mas seu sentido de preservação falará em algum momento porque é capaz de se diferenciar daquilo que foi perdido. Por outro lado, na melancolia, a dor transforma-se em sofrimento crônico porque está atada ao que se perdeu e não existe mais. Assim, por negar-se a tolerar este espaço vago, revive a dor numa recusa constante de virar a página e enfim, desprender-se da arquitetura emocional imaginária que lembra um labirinto sem saída.
 
Certos vazios nunca serão preenchidos, a não ser pelas lembranças da memória afetiva. Aceitar e conviver com as lacunas é a única maneira de preservar o sentido da vida.




(*) Imagem: Google



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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 23/08/2010
Reeditado em 15/07/2011
Código do texto: T2454052
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