CAPÍTULO XVIII - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro
XVIII
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)
Através do site do SINSJUSTRA - Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho dos Estados de Rondônia e Acre - chegou-nos uma notícia ao mesmo tempo cômica e ruim: o Presidente em exercício (interino) do Tribunal daquele estado deixou os servidores bastante indignados ao anunciar através do sistema de comunicação interna que o pagamento dos passivos previsto para essa semana não iria acontecer em decorrência de atraso na folha de pagamento. Imaginem agora a causa e o motivo do referido atraso: nada mais e nada menos do que o excesso de barulho produzido pelo caminhão de som utilizado na greve pelo sindicato! O homem alegou que o “barulho excessivo” do carro de som acabou por “desconcentrar” os servidores que trabalham na elaboração da folha de pagamento.
Sobre isso os representantes do Sinsjustra disseram o seguinte:
- A declaração pegou os grevistas de surpresa, uma vez que em momento algum o movimento desrespeitou os servidores que não aderiram à paralisação. É certo que o carro de som permanece na frente do Tribunal, entretanto o volume utilizado é o suficiente apenas para os que estão na paralisação. Com essa atitude nós entendemos que sofremos assédio moral coletivo, por isso já acionamos a Fenajufe para que as medidas cabíveis sejam tomadas junto ao Conselho Nacional de Justiça.
A grande vantagem de toda a confusão foi que a referida notícia sobre o adiamento do pagamento dos passivos acabou causando tumulto e revolta nos servidores. Muitos se decidiram então a abandonar os seus locais de trabalho naquele mesmo momento e a engrossar o movimento.
– Se a intenção era intimidar os grevistas, o tiro saiu pela culatra – disse Gérner Mattos, servidor do Tribunal e um dos coordenadores da Fenajufe - pois os servidores se revoltaram e se uniram ao Sinsjustra.
Essas são ainda hoje algumas das velhas práticas e atitudes pré-históricas utilizadas no sentido de pressionar o servidor a recuar no movimento e a se afastar do objetivo da aprovação do PCS. Mas será possível – perguntou-me naquele mesmo dia um colega de greve – será possível que esse homem ainda não percebeu que a ditadura brasileira já se findou faz tempo, que o AI 5 foi revogado em 1978 e que o povo e a democracia no Brasil já há muito renasceram das cinzas?