O almoço, os clones e os bois
Dinheiro não traz felicidade. Tá bom. Macaco não gosta de banana e a árvore do quintal de casa é azul. Não tinha e dinheiro e não era feliz, tenho dinheiro e sou menos triste. Arroz, feijão, um bife, fritas, farofa, duas rodelas de tomate, uma de cebola e duas folhas de alface. Pra descer mais leve uma boa e velha tubaina. Este é o cardápio do meu almoço. No mês passado era um tubo de catchup, um de mostarda, um de maionese dentro de uma esfirra de carne ou uma coxinha de cinqüenta centavos. Tomava água quando tinha um bebedouro por perto. Ok, o que me trouxe felicidade foi à comida. Que foi comprada com o dinheiro, enfim, os fins justificam os meios?
Um artista uma vez disse a outro que reclamava da fama e do dinheiro: “Se o seu dinheiro não trás felicidade para você de ele para eu mandar buscar a minha”. Basicamente, o mundo é povoado por hipócritas. Não é culpa de ninguém, é a natureza humana. Tem uma religião que acredita na eternidade através da clonagem. Não conheço muito da teoria, mais é algo do tipo: a raça humana é uma prega, que se espalha pelo universo destruindo planetas de tempos em tempos. Quando destruímos o suficiente para não podermos mais viver no que sobrou procuramos outro que seja habitável, ficamos lá por uns milênios e destruímos ele, depois vamos para outro, sempre nos clonando para manter a espécie. A NASA vai fazer um clone seu e te mandar pro meio do nada a procura de algum lugar pra sobreviver (tipo aconteceu com o Super Homem), mas na verdade você fica. Complicado isso né? Imaginem só, você mata um Bush e depois aparece outro. Tomara que eles estejam errados, mas não podemos descartar nenhuma hipótese.
Voltando. Estava almoçando meu comercial como faço todo dia da meio dia a uma. Que belo bife. Mal passado, com uma suculenta faixa de gordura e alguns nervos. Para os bois engordarem seus donos costumam castrar o animal. Porque se ele começar a trepar ele perde peso, e o fazendeiro dinheiro. Mas castrar um boi custa caro, é uma cirurgia relativamente complicada, quando feita por um veterinário. Mas como tudo na vida, existe uma solução mais simples, que nem sempre é a mais aceita. Em vez de um veterinário que vai cobrar cem mangos por boi, pode-se chamar seis piões que vão cobrar vinte cada um para capar uma boiada inteira. A solução é simples. Quatro seguram as patas e um a cabeça. O sexto vai fazer o trabalho sujo. Ele abre um tampão no saco do boi, e as duas bolas caem. Nesse instante os outros cinco estão trabalhando pesado, o boi não quer mais que aquilo continue. O sexto homem pega um pedaço de pau e enrola no nervo de uma das bolas, depois puxa com toda força. Chega a estralar. PAU! Ai o boi desiste de resistir, a dor é tão intensa que ele quer cair, mais os cinco capangas o mantêm de pé, e o sexto faz a mesma coisa com a outra bola. PAU! Neste momento o animal esta em um estado letárgico, provavelmente pensando que é uma gaivota. Ai eles jogam algo para desinfetar, passam um curativo e mandam ele de volta pro pasto, aonde um boiadeiro, junto com cães não castrados, tem a missão de não deixá-los sentar por doze horas, para não correr o risco de infeccionar e o animal morrer.
Ai eu te pergunto. Para que pensar em tudo isso? O negócio é terminar meu bifão, fumar meu cigarro, jogar a bituca no chão, pegar meu carro emissor de gases e ir pescar na época da piracema, porque é quando da peixe!
Obs: Crônica publicada na antologia "Diagnóstico: Literatura Crônica", Andross Editora