A Culpa é do Celular
Atualmente o telefone celular está cada vez mais presente na vida das pessoas, não importando a sua classe social, desde o pobre, operário, trabalhador até o rico empresário, claro que a qualidade e a tecnologia que cada um dispõe é algo que nem precisa comentar, mas relevante é o fato que todos querem ter. Uns tem porque é imprescindível e outros têm só por ter e para poder dizer que tem.
Uma coisa não se pode dizer sobre o celular: que ele é inútil. Quantas pessoas já foram salvas por causa dele, aquela pessoa que está viajando por uma estrada deserta e sem serviço de telefone, se tiver um celular estará praticamente salva e há inúmeros exemplos de como o celular é importante. Mas tem os seus contras que é quando o celular e toca no meio de uma sessão de cinema, durante uma reunião seja ela qual for, no trânsito. E um exemplo que eu queria destacar é durante uma vez que estava jogando futebol com os amigos e a maioria tem o seu celular – eu não levei o meu porque eu já não tenho costume de usar e para não tocar no meio do jogo – eu não me preocupei com isso, mas os meus amigos, colegas nem se importaram e de vez em quando o jogo tinha que ser parado para que o camarada atendesse. Tive que agüentar essa.
Certo casal, morador da capital paulista da classe média que com certeza tem o seu celular passaram por uma situação não muito agradável e que se não fosse o celular não teria acontecido, mas aconteceu. O marido era um empresário e a mulher era uma professora de universidade, não tinham filhos e essa idéia passava longe da cabeça deles e parecia que eles não iriam ter mesmo, ela que tinha trinta e sete anos, mas aparentando trinta e quatro e o marido conhecido como Sr. Ribeiro tinha seus quarenta anos. Até ai nada de mais, o problema era que o celular deles era semelhante demais, apesar de marcas diferentes. Eles raramente confundiam o celular, no dela tinha um adesivo e o dele tinha capa para proteger. Mas num dia eles acabaram trocando de celular, os dois saíram juntos e na pressa acabaram trocando e nem perceberam de princípio e isso gerou um grande problema.
Ele ao chegar à empresa tinha uma reunião que já estava acontecendo, afinal ele estava atrasado, como ele é uma pessoa correta desligou o celular. Mônica não gostava quando ele desligava o celular nessas horas, pedia para que deixasse no silencioso e depois ele saberia quem tinha ligado, mas ele teimava e desligava. Já Mônica que era uma professora de filosofia numa universidade, deixava o celular ligado e se tocasse ela atendia sem se importar com os seus alunos que quando ouviam o celular aproveitavam e saíam da sala, afinal tinha dia que ela dava duas aulas diretas e Mônica nem dava intervalo a não ser quando o celular tocava.
Enquanto trabalhava Ribeiro raramente recebia chamadas no celular e quando atendia era um cliente especial, afinal essa grande empresa que ele trabalha é o escritório central de um banco, mas o cargo dele não é tão importante assim. Detalhe que Mônica colocou uma capa em seu celular porque sem querer ela deixou cair no chão e resolveu comprar uma capa que era igual a do celular do seu marido. Bem distraída essa mulher.
Depois de ter almoçado Renato (Ribeiro) foi para o seu computador e ficou na internet vendo algumas futilidades, afinal ele estava sem seu horário de almoço de repente o celular toca, ele atende e fala:
_ Alô
_ Alô, Sra. Ramires?
_ Sra Ramires? Acho que você ligou errado. Renato fala e logo desliga na cara da pessoa. Não demora muito e novamente o telefone toca.
_ Alô.
_ Alô, por favor, a senhora Ribeiro.
_ Acho que você errou o número, quem está falando?
_ Raul. Raul César.
_ Escuta Raul me diga que numero você discou.
_ Ah eu disquei 9...
Renato pára, pensa e vê que o número é da sua esposa e começa a pensar num jeito de descobrir quem está procurando pela sua mulher.
_ Ah a Professora Ribeiro, é que ela deixou o celular dela na sala dos professores e eu sou novo aqui. Tem algum recado que você queira dar?
_ Fala para ela me ligar depois que acabar as aulas dela.
_ Tudo bem, fique tranqüilo que eu darei o recado a ela. Ela tem o seu número?
_ Acho que sim, em todo o caso é 9...
_ Muito obrigado Raul.
Renato quase não se contendo desliga o seu celular e espera ansioso até chegar à sua casa para tirar satisfações sobre o tal Raul.
Enquanto isso, Mônica dava a sua aula tranqüilamente e estranhava que ninguém a tinha ligado e ela já estava na segunda aula, os alunos também acharam estranho, afinal era o intervalo deles. Mas quando Mônica iria falar sobre Platão o telefone toca e ela toda feliz vai atender e os alunos todos felizes saem da sala.
_ Alô.
_ Alô, Renato?
_ Desculpa, mas você ligou errado. Ela tal qual Renato fez, desliga o telefone na cara da pessoa.
_ Podem voltar que era engano – disse Mônica para os seus alunos. Mas quando eles estavam voltando telefone toca novamente e eles voltam para fora da sala.
_ Alô.
_ Alô, Sr. Ribeiro?
Mônica ouviu aquilo e ficou pasma, tirou o celular da orelha e viu que era do Renato e como ele fez de tudo para descobrir quem estava procurando por ele.
_ Ah o Sr. Ribeiro deu uma saída e logo ele volta, com quem estou falando?
_ É Vanessa, uma cliente dele. Quando ele voltar pede para ele ligar nesse número: 9...
_ Darei o recado, sou a secretária dele.
Os alunos que ficavam perto da sala, ouviam aquilo e estranhavam o jeito como ela falava ao telefone.
_ Olha Vanessa diga especificamente o que você quer conversar com ele, pois ele é um homem muito ocupado.
_ Fala que quero fazer uma grande transação financeira e tem que ser urgente. Estou muito ansiosa para fazer essa transação, ela é muito importante para mim.
Mônica ouvia aquilo e se pudesse esganaria essa moça que mal sabe que está falando com a mulher dele que é muito ciumenta por sinal. Renato também é um pouco ciumento.
Ela termina a conversa com a moça que pela voz parecia ser nova e agora espera ansiosamente para chegar a casa para tirar satisfações sobre a tal Vanessa.
Mônica chama os alunos e volta a dar a sua aula, só que em vez de falar sobre Platão ela voltou a falar sobre Aristóteles e os alunos riam da cara de nervosa que ela estava.
Dada a hora de ir embora, Mônica já estava pensando uma maneira de dar uma lição no Renato. Também estava na hora de Renato sair e também pensava numa maneira de dar também uma lição em sua esposa. Por causa do trânsito Mônica se atrasa e Renato chega primeiro e ao chegar deixa o seguinte recado escrito e vai tomar seu banho enquanto Mônica não chega.
“Raul César ligou, o número dele é 9...”
Mônica chegou logo depois e teve a mesma idéia que Renato, ela ouviu que ele estava no banho e aproveitou para escreve o bilhete e deixou no criado mudo dele e saiu pra a cozinha. Renato terminou seu banho e ele viu o bilhete e já ficou preocupado. Trocou-se e foi para a sala, Mônica viu que ele terminou e foi para o quarto e nem olhou na cara dele. Chegou ao quarto e viu que também tinha um bilhete para ela, viu que não só ela recebeu telefonema estranho e já ficou esperta. Foi tomar seu banho e depois foi para a cozinha preparar algo para comer.
Na cozinha e já de banho tomado Mônica prepara algo para comer quando Renato chega, não falam nada e ele senta-se à mesa. Ela esquenta sua comida e senta-se também a mesa e nada de ninguém falar. Renato resolveu quebrar o silêncio.
_ E ai como foi o seu dia?
_ Bom e o seu?
_ Também foi bom. Eles falavam apenas por falar quando Mônica sente vontade de ir direto ao assunto. Mas Renato faz rodeio e comenta mais sobre o seu dia, mas com a mesma vontade de ir direto ao assunto. Ele cala-se e ficam sem falar por um instante, mas ele se lembrou de um detalhe no celular dela e perguntou:
_Você colocou capa no seu celular?
_ Coloquei sim. É que eu deixei cair no chão. Estranho você reparar nisso. – respondeu Mônica.
Fazem mais silêncio e quase não agüentando os dois ao mesmo tempo falam:
_ Quem é Raul?
_ Quem é Vanessa?
_ É só uma cliente
_ É só um velho amigo de faculdade.
_ Ah – dizem os dois um atrás do outro. Vão para a cama sem falarem nada e de repente Renato fala:
_ Por que você não disse que tinha um amante? Que nome mais feio para amante, Raul César – fala Renato com voz de gozação.
_ Por que você não disse que tinha uma cliente amante? Sabia que ela está louca para fazer uma transação com você.
Depois daquilo ninguém fala e voltam a tentar dormir.
27/11/2002