Dê-me a liberdade agora!

Por favor, me deixe sair daqui; deixe-me livre para alçar vôos em outras terras, nas terras mais distantes que eu puder voar; deixe-me sair dos domínios de suas mãos crueis e de seus pensamentos descabidos!

Quero voar sobre campos verdes, sobre as árvores e acima de todas as montanhas; quero ver flores azuis, águas correntes e florestas virgens. Quero ter uma casa em cada lugar em que eu possa pousar e seguir sempre pelos caminhos que eu desejar trilhar; quero ser um pássaro selvagem que voa por todos os céus e dentro das nuvens.

Esta prisão em que estou solitário e sem luz; não consigo pensar, muito menos ver a minha própria sombra. Se alguém visse agora o meu reflexo na parede ou no chão, veria algo sem vida e cheio de tristeza.

Meus olhos são espelhos que somente enxergam o mundo lá fora e minha cabeça apenas pensa num jeito de sair daqui e voar; como o vento pode mudar a direção de um navio pesado, minha fotografia esquecida num armário também está mudando de cor por causa do tempo.

Minha barba começa a acinzentar e a mostrar que todo este tempo serviu apenas para me deixar velho e ainda mais inútil; minha cara lívida de tanta escuridão quando tocada já não reconhecem meus dedos.

Para um pássaro selvagem que apenas sonha com a liberdade e que espera o dia em que possa bater suas asas e voar pelo céu, quando privado do que mais gosta e pode fazer, ele se sente como um elefante atolado num lago de lama.

Deixe-me sair e voar, para que eu possa ir bem longe à direção daquilo que sempre sonhei e que sempre fui deixando pra trás por causa de você! Deixe-me apenas me levantar bem cedo, com o cheiro da relva da manhã, sorrindo como jamais o fiz e chorando pela celebração da liberdade. Deixe-me sair para viver ou morrer, mas que seja pelo brilho de meu talento e sem a sua participação de críticas e cerceamentos.

Eu apenas quero poder ouvir novamente os sons na natureza, orar nas grutas mais altas dos penhascos mais íngremes; e não importa se estarei sozinho. Por favor, atenda meu pedido e retire agora estas algemas apertadas e abra este cárcere fétido, sujo, escuro e pequeno; eu preciso voltar a ver o sol e voar pelos pastos, afinal de contas foi para isso que nasci e vivi.

Eu não terei qualquer mágoa de ti, muito menos tentarei voltar, porque a vingança jamais esteve presente em meu coração; eu só quero sair e esquecer que um dia cruzei seu caminho; e te afirmo que a liberdade, distante desta prisão que me mata aos poucos, pode me ferir, me açoitar e me retirar todos os órgãos, mas com certeza será muito melhor do que se eu ficar.

Dê-me as chaves agora ou assine de vez a minha sentença de morte; não subestime aquilo que está escrito desde antes de eu nascer; faça a coisa certa e me deixe sair; finja que vai passear pelos guarneçais e deixe as chaves sobre a soleira de pedra; eu limparei todos os vestígios que ficaram de meu corpo jogado pelo chão frio e pela manhã não haverá nem o cheiro de minha presença, muito menos as marcas de minhas mãos.

Quando eu conseguir sair me fará de arco-íris, que celebrará minha soltura e minha liberdade; o mesmo adorno do céu que ficará para fazê-lo esquecer e curará sua cabeça que somente pensa no cárcere.

Por sua indulgência receberás tesouros e pela sua cegueira há de encontrar a felicidade; pelo seu segredo nada direi e pela sua ira do passado, minha amnésia profunda.

Eu poderia te dar mais de mil razões para me deixar sair em silêncio, mas deixarei que escolha apenas uma, a que eu jamais pertenci a ti, muito menos a este lugar. Escolha o pretexto e não se cegue com os sentimentos profanos; seja apenas você e jamais esqueça que cada um nasce para alguma coisa; eu nasci para voar e ser livre e não para te pertencer!

Minhas penas voltaram a nascer e agora eu só preciso que me retire às algemas e abra a grade que ora ponho as mãos para receber as migalhas de paõ; é somente disso que preciso e sei que irá me consentir; seja hoje, amanhã ou na semana que vem. Mesmo aprisionado aqui, você sabe que jamais me teve e jamais o terá; eu jamais te pertenci e jamais fui criado para viver neste lugar!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 21/08/2010
Reeditado em 22/08/2010
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