O Brejo Sertanejo
O sertão anda, sem querer, concorrendo com o circuito do frio das serras da Borborema. Hospedei-me em Brejo das Freiras, em viagem de trabalho a Cajazeiras e desfrutei do ventinho frio, saudável, incomparável com o sopro artificial do ar refrigerado. Vento que vem lá do Aracati, esperado, na boca da noite, pelos bate-papos sentados em cadeiras na calçada das casas interioranas. Caminhei, admirando enormes cururus que , aqui e acolá, pulavam alimentando-se de mariposas, sob algarobas, serenas, dando a impressão de satisfeitas por não chorar orvalho gotejado nas noites de verão. Não existe coisa mais linda do que copas e matos verdes nas regiões semiáridas onde, em parte do ano, reclamam a seca. Pois é! O sertão não inveja o brejo, delicia o frio como nas desoras de algum oásis.
Senti a sensação de fazer nada. Fazer nada, para o taoismo, é a experimentação da felicidade, da ausência das preocupações, num mundo em que estar sempre ocupado vem se tornando obrigação contínua , “ação ética”, causando até o movimento contracultural do “no work” (não trabalho) nas sociedades avançadas, objeto de estudo e pesquisa da Sociologia do Lazer. Imagino que, no paraíso, parte da felicidade é não fazer nada diante da imensurável beleza. Porém, parar é uma aventura , ao lado da corrida concorrência e do aproveitamento obsessivo do tempo , mesmo para merecido descanso. Fernando Pessoa expressa, em poesia, a alegria “na face de não cumprir um dever”. Que isto não se utilize para justificar irresponsabilidades de quem faz pouco dos outros, fazendo nada das suas responsabilidades. Pois, viver bem o ócio é apenas dar vez à contemplação do belo e à meditação daquilo que é bom.
Continuei a caminhada taoista levado mais pelo prazer do que pela obrigação de estar cuidando da saúde, esquecendo que “você tem de caminhar” e não se sabe aonde... Aliás, o prazer natural, nos espontâneos limites, faz bem à saúde. Voltava e ia à fonte das águas térmicas, atraído pelo cheiro da vegetação verde e o cantar das aves noturnas, quando Epitácio me retirou desta absorção para tomar uma deliciosa coalhada: “De leite igual a este aqui, doutor, nem a capital tem”. Aproveitei a internet sem fio, recentemente instalada naquele hotel, gratuita aos clientes que queiram navegar e escrever à noite, apenas ao som do teclado das letras, até pegar no sono, acalentado pela brisa. Ao amanhecer do dia, sob o canto dos pássaros, passa pela janela o despertar de um tímido sol, convidando-nos o desejo a dormir de novo, não pelo sono em si, mas para voltar, pelo mesmo caminho, à noite que passou.
O sertão anda, sem querer, concorrendo com o circuito do frio das serras da Borborema. Hospedei-me em Brejo das Freiras, em viagem de trabalho a Cajazeiras e desfrutei do ventinho frio, saudável, incomparável com o sopro artificial do ar refrigerado. Vento que vem lá do Aracati, esperado, na boca da noite, pelos bate-papos sentados em cadeiras na calçada das casas interioranas. Caminhei, admirando enormes cururus que , aqui e acolá, pulavam alimentando-se de mariposas, sob algarobas, serenas, dando a impressão de satisfeitas por não chorar orvalho gotejado nas noites de verão. Não existe coisa mais linda do que copas e matos verdes nas regiões semiáridas onde, em parte do ano, reclamam a seca. Pois é! O sertão não inveja o brejo, delicia o frio como nas desoras de algum oásis.
Senti a sensação de fazer nada. Fazer nada, para o taoismo, é a experimentação da felicidade, da ausência das preocupações, num mundo em que estar sempre ocupado vem se tornando obrigação contínua , “ação ética”, causando até o movimento contracultural do “no work” (não trabalho) nas sociedades avançadas, objeto de estudo e pesquisa da Sociologia do Lazer. Imagino que, no paraíso, parte da felicidade é não fazer nada diante da imensurável beleza. Porém, parar é uma aventura , ao lado da corrida concorrência e do aproveitamento obsessivo do tempo , mesmo para merecido descanso. Fernando Pessoa expressa, em poesia, a alegria “na face de não cumprir um dever”. Que isto não se utilize para justificar irresponsabilidades de quem faz pouco dos outros, fazendo nada das suas responsabilidades. Pois, viver bem o ócio é apenas dar vez à contemplação do belo e à meditação daquilo que é bom.
Continuei a caminhada taoista levado mais pelo prazer do que pela obrigação de estar cuidando da saúde, esquecendo que “você tem de caminhar” e não se sabe aonde... Aliás, o prazer natural, nos espontâneos limites, faz bem à saúde. Voltava e ia à fonte das águas térmicas, atraído pelo cheiro da vegetação verde e o cantar das aves noturnas, quando Epitácio me retirou desta absorção para tomar uma deliciosa coalhada: “De leite igual a este aqui, doutor, nem a capital tem”. Aproveitei a internet sem fio, recentemente instalada naquele hotel, gratuita aos clientes que queiram navegar e escrever à noite, apenas ao som do teclado das letras, até pegar no sono, acalentado pela brisa. Ao amanhecer do dia, sob o canto dos pássaros, passa pela janela o despertar de um tímido sol, convidando-nos o desejo a dormir de novo, não pelo sono em si, mas para voltar, pelo mesmo caminho, à noite que passou.