DE SAIA FRANZIDA

Quando eu era adolescente, no quarto das meninas tinha um móvel que nem passa pela cabeça das jovens de agora: a penteadeira. Era um espelho preso a uma espécie de bancada com duas ou três gavetinhas, diante da qual ficava uma banqueta. Devia ser para a moça ali se sentar, pentear-se e maquiar-se, o que jamais fiz. Eu o utilizava como aparador de vidros de perfume, inclusive o Flor de Maçã e algum bibelô de estimação. E nada de toalhinhas rendadas embaixo deles, como eu via no quarto das senhoras. Confesso que eu não gostava muito desse móvel e fiquei feliz quando pude trocá-lo por outro, diferente, que minha tia não queria mais. Era uma mesinha retangular vestida de saia franzida! Bem bonitinha. O espelho ficava pregado à parede e lá embaixo, nas prateleiras escondidas, eu guardava meus sapatos. A chamada penteadeira que na verdade era sapateira. Sobre ela, além dos perfumes, sobrou espaço para minha vitrolinha. À noite, era só colocar ali um Lp e adormecer embalada pela música tocando baixinho. Quando ela parava sozinha, automaticamente, eu já estava no sétimo sonho...