Almoça junto todo dia...(BVIW)

Tinha chegado do trabalho para o almoço e logo percebeu em cima da mesa um pedaço de papel dobrado e um envelope de laboratório. Com as mãos sujas de cimento do mundo que construía para outros, abriu primeiro o papel que dizia: “Pai e mãe, espero que possam me perdoar. Amo muito vocês.” Sem delongas abriu o envelope. Ele já sabia o que dizia ali, mas os olhos precisavam conferir. O resultado: POSITIVO! Engoliu seco o nada que mal cabia na garganta e com olhos magoados olhou pra esposa. Talvez culpando-se, talvez pensando em como reagir. A filha de apenas 17 anos. Grávida! De quem foi a falha? Ele não sabia. Ou não queria saber. Sem dizer nada levantou e pegou um saquinho de arroz que estava pendurado atrás da porta da cozinha, onde guardava suas contas a pagar. A outra, de 14 anos estava deitada no chão da sala ouvindo música exageradamente alta, e sequer ouvia as lágrimas de sua mãe em cima das cinzas do seu cigarro. Enquanto seu pai somava água, luz e telefone. No rádio alto tocava “A guerra é aqui” dos titãs. Havia muita mágoa naquela família.

Uma ano mais tarde, a família estava reunida para o almoço de domingo. A netinha sorria e encantava a todos com seus barulhinhos de vida. O pai e agora avô, fazia ruídos estranhos com a boca para ver a criança sorrir. E todos em volta riam juntos. A filha e agora mãe, fazia compressas nos seios que carregavam mais leite do que a pequenina dava conta. O rádio do vizinho tocava “Paciência” do Lenine. Havia muito amor naquela família.

Porquê a vida sem obstáculos não teria graça nenhuma.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 20/08/2010
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