POETA MAIOR
POETA MAIOR
Há doze anos fui convidado pela caríssima amiga Mirim Soprana, dona da então Galeria de Arte e Antiquário, para participar de um Seminário de Arte, organizado por sua galeria. O evento foi realizado no dia 12 de setembro de 1998.
O Seminário de Artes teve como palestrantes Ligia Roussenberg Neves, Gabriela Deri Codina, Denise Barella e LINDOLFO BELL, que naquele encontro cultural proferiu sua última palestra no estilo “Catequese Poética”. Essa modalidade de “catequese” foi criada por esse saudoso poeta catarinense, através da qual levava a todos os recantos das terras catarinenses a sua poesia, quando discorria sobre as modalidades dessa arte em todos os seus sentidos, belezas e afetos.
No transcorrer desse Seminário, Lindolfo Bell bateu na tecla – e o fez com muita força – de que a poesia não pode ficar restrita ao livro das bibliotecas públicas e/ou das estantes domésticas para ser lida. As praças das cidades seria o seu lugar ... e com bastante gente a ouvi-la. Este seria seu palco de honra, onde a melodia inefável da alma do poema seria transmitida às almas e ao intelecto de quantos estivessem atentos e quisessem beber-lhe a harmoniosidade.
Muito se ouviu e discorreu sobre o poeta durante os encontros culturais em que a tônica foi a poesia, mas foram escassos meus momentos de contato direto com Lindolfo Bell. Ao que me lembre, somente dois, em que efetivamente firmamos amizade fraterna e trocamos ideias sobre sua arte.
Tínhamos, pelo menos, uma coisa em comum – verdadeira adoração pela beleza do sexo oposto. Os temas que mais gostava de enaltecer eram a feminilidade e delicadeza das mulheres.
Muito embora se empolgasse, a ponto de ignorar conversas vulgares nos encontros com amigos, quando o assunto era a poesia, era um amigo gentil de refinada educação, que inspirava empatia a quem quer que fosse, com qual grupo ou onde interagisse com sua amizade.
Em meados do fatídico ano de 1998 enviei-lhe os textos datilografados do meu livro de sonetos “Ao Deus Soneto”, solicitando sua leitura e, se fosse de sua vontade e tempo disponível, desse-me a honra de prefaciá-lo. Em novembro daquele mesmo ano devolveu-me o pacote de poemas, acompanhado da carta que a seguir transcrevo.
“Caro Afonso
inicialmente deixo registrada a minha gratidão, por lembrares de mim e confiares.
Devo dizer-te que não tenho mais feito textos de apresentação.
Talvez algum dia retorne à idéia.
Sugiro escreveres para Alcides Buss, competente poeta e presidente da União dos Escritores de S.C.. Lauro Junkes é outra opção, talvez o crítico catarinense vivo mais importante em S.C. Ambos moram em Fpolis, como, provavelmente, sabes.
Desejo sorte e que não esqueças do teu coração e o poema como linguagem e testemunho.
A braços fraternos
5-11-98
Bell”.
Guardo carinhosamente esta carta, como relíquia, junto aos meus alfarrábios mais sagrados, já que foi o derradeiro contato que tive com o saudoso poeta.
Chapecó-SC, 19 de agosto de 2010.
Afonso Martini
Poeta e escritor