QUANDO MINHA PALAVRA CALA
 



 
Escrever exige disciplina. É o que dizem. Até hoje não atingi este grau de disposição para a escrita. Creio que escrevo movida por uma força (estranha é a música, eu diria inconsciente).

Penso que escrever é, em grande parte, mistério. Estou a anos luz de dominar ou sentir uma intimidade tão profunda que bastaria abrir a tela em branco (ou o caderno de anotações) para recriar a vida num mosaico de sentidos.

Muitas vezes imagino que a palavra seja aquarela com tons e nuances característicos da alma escritora. Cada um, seduzido por uma tela de letras, delineará contornos, perspectivas, sombras e luzes coloridas por afetos, memórias, desejos e fantasias: os pincéis do escritor.

Em outros momentos, minha palavra parece calar. E não se deixa moldar como argila nas mãos de um artesão. Assim, imagino um bloco de mármore que o escultor se depara, completamente bruto e disforme. Escrever nestas horas é "esculpir leite de pedra"!

Quando minha palavra cala é porque deseja voltar a ser consistente. E não esvaziar-se sem acrescentar coisa alguma.

Este "acrescentar", longe de soar pretensioso, é o ponto de encontro entre o autor (representado pelo texto) e o leitor. Sem este espaço de interlocução, a meu ver, nada pôde ser escrito, nem lido porque a interpretação do sentido simplesmente não se realiza.

Em outras palavras: o espaço para o sentido permanece vazio.

Espero que meu texto não exemplique esta ausência.

Se por (des)ventura o fez, nenhum mérito terei... ;)



(*) Imagem: Google



http://www.dolcevita.prosaeverso.net
 
 
 
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 20/08/2010
Reeditado em 20/08/2010
Código do texto: T2448552
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.