QUANDO MINHA PALAVRA CALA
Escrever exige disciplina. É o que dizem. Até hoje não atingi este grau de disposição para a escrita. Creio que escrevo movida por uma força (estranha é a música, eu diria inconsciente).
Penso que escrever é, em grande parte, mistério. Estou a anos luz de dominar ou sentir uma intimidade tão profunda que bastaria abrir a tela em branco (ou o caderno de anotações) para recriar a vida num mosaico de sentidos.
Muitas vezes imagino que a palavra seja aquarela com tons e nuances característicos da alma escritora. Cada um, seduzido por uma tela de letras, delineará contornos, perspectivas, sombras e luzes coloridas por afetos, memórias, desejos e fantasias: os pincéis do escritor.
Em outros momentos, minha palavra parece calar. E não se deixa moldar como argila nas mãos de um artesão. Assim, imagino um bloco de mármore que o escultor se depara, completamente bruto e disforme. Escrever nestas horas é "esculpir leite de pedra"!
Quando minha palavra cala é porque deseja voltar a ser consistente. E não esvaziar-se sem acrescentar coisa alguma.
Este "acrescentar", longe de soar pretensioso, é o ponto de encontro entre o autor (representado pelo texto) e o leitor. Sem este espaço de interlocução, a meu ver, nada pôde ser escrito, nem lido porque a interpretação do sentido simplesmente não se realiza.
Em outras palavras: o espaço para o sentido permanece vazio.
Espero que meu texto não exemplique esta ausência.
Se por (des)ventura o fez, nenhum mérito terei... ;)
(*) Imagem: Google
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