O defensor da sociedade
Fernando Enéas é defensor público, pago pelo Estado para defender quem não pode pagar advogado. Ele entrou recentemente com uma Ação Civil Pública contra a Fundação do Hospital, a Prefeitura Municipal e o Governo do Estado por causa do fechamento do Hospital Santa Cecília, em Mari/PB. Hoje (19) lidera mobilização do povo da cidade para exigir a reabertura do Hospital, único ponto de atendimento de saúde da cidade, fechado há mais de um mês, e sem nenhuma providência tomada até o momento.
João do Varejão e Marcondes Baltazar são vereadores. Eles também estarão na passeata com associações de bairro, estudantes e outras categorias. O prefeito, a maioria dos representantes da burguesia local e os demais vereadores não estarão no ato público. Uns por amarelão mesmo, outros por conveniência pessoal, alguns porque estão mais ocupados fazendo “política” que estamos em plena “safra”.
No meio da passeata, vai estar dona Salete de braços dados com Fernando Enéas, ela enfermeira agora desempregada, ele cuspindo marimbondos contra o sistema cruel que deixa uma população abandonada, sem assistência médica. Calmo e empinado como um juiz soberbo, o “Chefe” não tem nenhuma consciência do malfeito que faz ao povo sem eira nem beira. Manda seu prócer dizer que a culpa é do prefeito, que por sua vez se explica, mandando a conta para o diretor do Hospital. Esse, cansado de cortar o couro seco do povo de Mari, que não dá mais caldo, foi cuidar dos seus milhões.
Dona Salete, essa eu conheço, foi minha cúmplice nas nossas lutas para organizar o povo. Trago anotações na mente daquelas brigas para fundar a associação de moradores, a rádio comunitária e para dar de comer aos sambudinhos da Pastoral da Criança. Hoje ando limpo de armas, sem valentia, doente e triste por ver minha cidade de Mari desamparada de cuidados médicos. Sei do sofrimento da senhora Salete e de tanta gente boa que lá conheci, gente que brigava por devoção, igual a esse Fernando Enéas, a quem não conheço, mas admiro pelo seu incomum senso de humanidade e dever de cidadão, pela coragem e desprendimento. Sei de defensor público que, durante a longa greve da categoria, continuou prestativo ao Governo, derramando-se em reverência aos poderosos e dando as costas aos companheiros.
O Fernando Enéas estará à frente da sociedade civil organizada, diz o blog do compadre Josa. Os covardes, os aproveitadores e demais abutres sociais, indiferentes ao mundo de miséria e sofrimento da ralé, vêm a luta sistemática de homens como Fernando Enéas como uma coisa estúpida e sem sentido. Os crucificados de fato e de direito, o pessoal do SUS tem num quieto e remoto lugar de sua consciência embotada pela fome pela ignorância a real medida do valor desse homem público. Uma força que ele, o zé povinho, não conhece ainda, está se alimentando desses exemplos. Um dia a febre chega e a casa cai, por força do verdadeiro exercício da justiça e da lei da gravidade.
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