A Mulher que cumprimentava.
Quem é esta mulher, que anda suave como uma gueixa, subindo e descendo ladeiras a cumprimentar?
Nos bares, nas praças, nas ruas, sua mão se estende para um desconhecido. Tanto cumprimenta, com o seu olhar penetrante, seu sorriso tímido, e sua voz praticamente desaparecida das cordas vocais, que já se tornou conhecida por muitos que a vêem a caminhar desde o raiar do dia, até o pôr-do-sol.
E quando não cumprimenta? Ah! Quando não cumprimenta, fala, briga com os símbolos de sua vida de mistério, bradando confusa em seu dialeto, sua língua, sua expressão pouco conhecida pelos que a vêem! Seria em Japonês? Com quem briga esta mulher, enquanto não cumprimenta suavemente?
Há quem diga que sua reverência se dá apenas a homens, como que a restaurar uma idolatria de uma época passada, munida de respeito, de amor, de carência afetiva pela figura masculina.
Sua descendência oriental não lhe dá extremo porte, mas torna-se grande quando se aproxima! Chega com a simplicidade de quem conhece o mundo, as coisas, os lugares, as pessoas! E se não as conhecesse? Ah! Para ela o primeiro cumprimento será como o segundo, o terceiro, e o quarto, sempre impresso de um conhecimento de outrora, de uma leitura prévia do espírito e da alma de cada ser a quem ela estende a mão.
Esta mulher sem nome, que esconde seu passado, que não sonda o seu futuro e que não parece ter destino, continua a vagar por aí, dia após dia, executando a sua via sacra de cumprimentos reverenciados. Com suas vestes surradas, pés cansados e com o seu rosto envelhecido pelo sol ou pelo frio, percorre todas as estações do ano a cumprimentar.
Loucura? Devaneios? Solidão?
Quem pode decifrar os mistérios que rondam a mente desta mulher, que vagueia pelas ruas, dia após dia, imbuída da atitude nobre de sorrir, abraçar e estender a mão aos seres desconhecidos de seu percurso? Acredito que, para nós, nada mais importa saber! Basta guardarmos no coração a concepção mais viva desta atitude: A atitude da mulher que cumprimentava...