RESILIÊNCIA
Esses dias encontrei uma senhora que me encantou pela sua força e determinação diante da vida.
Me contou ela que veio da alemanha por força da perseguição nazista.
Nos campos de concentração, viu seu pai ser levado para as camaras de gás.
Presenciou sua mãe embarcar em um trem lotado de gente, o ultimo gesto dela, foi enviar-lhe um beijo, cheio de amor e ternura.
Com a voz embarcada pela lembrança da mãe querida, disse-me ela que ainda reve a cena em sua memoria, e guarda o beijo com um carinho sem fim.
Claro nunca mais viu seus pais, que morreram vitimados pelo preconceito e loucura de uma mente sordida.
Contou-me ela, da tristeza que vivenciou nos campos de concentração, da dores sem fim, pela separação de sua familia.
O unico irmão foi morto na sua frente, com um tiro de fuzil.
Disparado por um soldado nazista que não gostou do ve-lo repartindo o naco de pão que recebia ao dia, com outro prisioneiro mais necessitado.
Disse que esse ato simples de cuidado com o semelhante, enfureceu o soldado, que por isso atirou e matou seu unico irmão.
Dona Berta, assim se chama essa grande senhora, continuou a contar-me, que somente conseguiu escapar, pela ajuda de um alto funcionario que conhecia sua familia a muitos anos, e lhe arrumou documentos falsos.
So assim foi possivel empreender viagem por varios portos e destinos diferentes.
Que acabou trazendo Dona Berta, ao Brasil, país que reside até hoje.
Mas o que me fez escrever sobre essa grande senhora, foi o tamanho da força que a moveu, e a fez sobreviver a toda dor e tristeza que vivenciou em seu pais, a perda brutal de sua familia, por um regime totalmente desumano e cruel.
Quando aqui chegou tinha 16 anos, e pesava 41 quilos, para uma estatura de 1,78.
Agasalhada no seio de uma bondosa familia de origem Judaica, valentemente escolheu continuar vivendo.
Mas o tocante foi que Dona Berta, não decidiu apenas por sobreviver, mas sim por viver !
Estudou muito, aproveitando a oportunidade que a familia que a acolheu lhe proporcionou.
Formou-se medica e por muitos anos, serviu a Cruz Vermelha, onde pode ser útil aos que como ela, foram vitimas de algo ou de alguem.
Na Cruz Vermelha conheceu outro medico, com quem se casou e teve quatro filhos.
Hoje viuva, é tambem avó de 9 netos e bisavó de 6 lindas crianças.
Esta idosa, mas não "velha" pois continua atuante, ajudando de alguma maneira aos jovens desfavorecidos, em um projeto social muito humano, idealizado por ela.
A saga dessa Alemã, que tinha tudo para sucumbir, diante da dor e do sofrimento atroz que viveu.
Me leva a refletir, na força que há em nos seres humanos, e a pensar muito sobre essa palavra hoje muito usada na psicologia, que foi emprestada da fisica, que é a RESILIÊNCIA.
Porque será que existe gente capaz de superar tamanho trauma, e seguir a vida, servindo ao semelhante, sendo util ate o final de seus dias.
Enquanto outros, por uma unha encravada, desistem da vida e do viver.
Eu creio que a Resiliência, seja algo que vamos conquistando, a cada problema que transpomos, a cada dor que enfrentamos.
Os obstaculos da vida, vão nos tornando mais fortes e competentes.
Isso quando realmente os aproveitamos para aprender e continuar seguindo em frente.
O ser humano é surpreendente em sua capacidade interior de superação.
Dona Berta e tantos outros semelhantes a ela, estão por ai, a nos mostrar como são imensas as possibilidades que dormem em nosso intimo.
So nos faltando vontade e força para desperta-las.
(Definição para Resiliência na Psicologia: "Capacidade que um individuo apresenta, após uma adversidade, em conseguir se adaptar e evoluir positivamente frente a situação" )