CRÔNICA – Amadurecer

 

                Na medida em que o tempo passa, ou seja, a cada milésimo de segundo, sinto que estão se esvaindo as possibilidades de ficar amadurecido na vida... é como pegar ou largar...

            Quando falo em aprimoramento, evidente que não quero me referir à idade, a tempo cronológico, todavia às experiências que um ser passa, empreende, a fim levar o barco à frente, contra quaisquer obstáculos que possam aparecer no seu percurso, isso até encontrar um porto que lhe seja absolutamente calmo e tranquilo.

            Alguns poderiam indagar: “Mas haverá algum porto seguro neste mundo” de meu Deus? Fico em dúvida se realmente existe esse lugar que poderia ser assim como o “éden”, não aquele do Adão e Eva, mas o nosso próprio paraíso. Todavia, vale reflexionar, esse verbo bem fácil de falar, entretanto pouco utilizado na prática.

            Da maneira em que o mundo caminha, o grau de dificuldade e de incertezas aumenta consideravelmente. Quando todos querem um lugar ao sol, progredir, viver, ou seja, prosperar nas diversas áreas e de qualquer maneira, a fila engarrafa e causa um grande impacto, para. Aí é justamente onde está o obstáculo que muitos enfrentam, porquanto essa ânsia de vitória, embora justa e compreensível, deve ser dosada à medida das possibilidades e condições de cada um, aliadas ao conjunto de fatores que circunscreve o “querer”, que não pode ser ilimitado, pois certamente o impossível estará embutido nesse desejo.

            Assim, por exemplo, eu posso até querer ir morar na lua, adquirir um terreno e construir a minha casinha nesse planeta dos enamorados. Ocorre que não existe a mínima possibilidade, pelo menos nos tempos de hoje, de que isso venha a se tornar uma realidade. De qualquer sorte, bom se frise que ninguém conseguirá nada na vida se não estiver presente, carregar consigo o “desejo” de tê-lo, mesmo as mais simples coisas materiais e espirituais.

            Viver no céu é uma aspiração de quase cem por cento do povo que acredita seja o lugar das almas justas. O que se prega, entretanto, é que esse objetivo é por demais difícil de ser alcançado, decerto porque teríamos de levar uma vida fazendo somente o bem, sem olhar a quem, seguindo, aliás, a trilha do Cristo. Há aquela máxima de que “muitos são chamados, poucos os escolhidos”.

            Na memorável obra “Deus lhe pague”, do autor Joracy Camargo (é Jo mesmo), uma lição aprendi até hoje e a transmito aos meus: “Se não preciso de um automóvel não sinto falta do dinheiro que ele custa”. Uma verdade, verdadeira. Essa joia da literatura brasileira se tornou sucesso em filme, que fora exibido no exterior, notadamente na Alemanha, estrelado pelo maior ator deste país, que foi o Procópio Ferreira, genitor de nossa inigualável Bibi Ferreira, a deusa dos palcos.

            De um desejar além das possibilidades, da avidez por obter vantagem, lucro de toda sorte e vencer o inimigo ou competidor, é que surgem os graves pecados que contaminam a sociedade, como a inveja, por exemplo, que pode vir a ser o ímpeto de possuir algo que a outro pertence, de tomar para si bens alheios, até por meios ilícitos.

            O que a mim me parece palatável é que cada um terá o atracadouro que vier a construir no âmbito de sua existência, melhor dizendo, em face das boas ações que praticar, nem que para isso precedidas de posicionamentos tidos como rígidos, porém necessários à correção de rotas desnorteadas. Um filho, exemplificando, será tão bom quanto foram os pais se orientado convenientemente, contudo não se queira entender que isso venha a significar apoio incondicional a tudo que o rebento fizer; há de existir os freios de arrumação, aquele basta austero e não violento.

            Não precisa de riqueza o homem que deseje erguer o seu paraíso! Ele virá na dose certa e no tempo ideal, até porque pobreza não é vileza, nem tampouco significa que não se possa viver com a escassez, na dignidade. Um bom chefe, mesmo de família, se concebe da maneira como administra situações difíceis, entre elas a falta de recursos, que sempre foi e será escassa. Gerir na época das “vacas gordas” é muito confortável, o êxito poderá estar garantido, não se tornando necessário pensar, no entender de muitos, pois os frutos, quem sabe, aparecerão, e isso também vale para qualquer atividade.

            Tem-se de ter cuidado no gerenciar abundância, mormente quem nunca a teve, mas que fora beneficiado de uma hora pra outra, de surpresa, pois em não refletindo e se tornando pródigo, mesmo esbanjador, certamente levará o empreendimento à bancarrota. Ficar rico é e permanecerá muito difícil, na honradez, todavia empobrecer é como “ir ali e voltar num minuto”.

Era isso que tinha a dizer.

Em revisão.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 19/08/2010
Código do texto: T2446931
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.