Hora extra

Fica vai... eu realmente preciso que você fique.

O pedido era mais que uma suplica. Ao telefone, Sr.Alberto, sujeito agitado, advogado dedicado, explicava que estava em reunião de negócios que não chegaria antes das dez horas. Maria, por sua vez, argumentava que sua filha de onze anos não poderia ficar até essa hora sozinha em casa; era perigoso e além do mais, havia em seu bairro o toque de recolher e não poderia ficar andando na rua depois das onze. A negociação durou, quase meia hora, até que Sr.Alberto a seduziu com horas extras e a volta de táxi.

Maria ligou para sua filha explicou-lhe e a orientou que trancasse a casa e não atendesse a ninguém até que ela chegasse.

Eram mais de onze horas quando a porta da sala abriu. Num pulo Maria levantou-se, abraçada com sua bolsa e os olhos marejando lágrimas.

- Calma Maria. Falava e abria a carteira querendo se livrar logo da mulher.

- Pedrinho demorou pra dormir. Enxugava as lágrimas dos olhos.

- Maria não fica assim, só pedi porque era realmente importante.

- E agora Seu Alberto? Como faço? Não posso deixar a menina dormir sozinha e também não posso ir pra casa.

- Maria vá pra casa. Tudo vai da certo. Amanhã eu acerto o resto com você. Entregou trinta reais.

- Até amanhã. Entrou no elevador.

O dinheiro para o táxi era pouco e Maria foi até o ponto de ônibus e por ali esperou por quase uma hora. Até que um carro grande entrou na rua em velocidade passando por ela, que na mesma hora fez o sinal da cruz e agradeceu. Mas ainda era cedo para agradecer. O carro deu ré e parou com os vidros fechados. Maria não sabia o que fazer. Correu. As portas do carro se abriram e logo cinco rapazes estavam em sua volta. Começou a chorar e a implorar que não a machucassem. Foi em vão. O mais novo empurrou Maria que caiu no chão. Puta, vadia, meretriz safada, foram alguns dos nomes que embalaram o espancamento.

No dia seguinte Maria não foi trabalhar.