DIA DOS PAIS - AS PIPAS DE ONTEM E DE HOJE

O passar dos anos faz com que a gente compare as modificações. Há modernidade até nas brincadeiras de rua.

Hoje, Dia dos Pais, presenciei algo diferente aqui na minha rua. Pela facilidade de só ter saída para pedestre, o local se torna o preferido da garotada em suas brincadeiras.

Estava eu chegando da minha caminhada,quando percebi que algo diferente estava acontecendo, carros e mais carros estacionados, posto de gasolina lotado de gente olhando para uma só direção. Pensei com meus botões, acidente.

Fiquei surpresa ao chegar mais perto a coisa era bem diferente, pais e filhos resolveram comemorar o Dia dos Pais soltando pipas! E mais surpresa ainda fiquei quando vi que o cerol era proibido! Ali era só brincadeira sem causar danos a outrem.

Cheguei mais perto e prestei atenção nas pipas, cada uma mais linda que a outra, tanto nas cores como no formato, de igual às que eu soltava quando criança só a posição as varetas de bambu, isso mesmo, posição, porque ninguém mais fica com faquinha afinando vareta, a máquina agora faz tudo! Até o papel é diferente na textura.

O que me deixou intrigada foi a linha. Me lembro que eu comprava um rolinho de linha 10 e quem tinha o rolo maior eram os mais crescidos. Hoje, passei por um menino que devia ter seus 8 anos no máximo e quando vi a linha fiquei espantada. O rolo era enorme, devia ter uns 25cm de diâmetro! Perguntei se era linha ou fio de nylon e ele me respondeu ser linha. Não me contentando perguntei: isso não é muito grande pra você? Ele me respondeu: é não tia, quanto mais melhor, aí eu voo mais longe. Imaginei o preço da linha, pois o meu rolinho já me custava o lanche da escola que eu deixava de fazer pra comprar.

Voltei para casa e tive que ir ao mercado. Quando da minha ida, passei por uma loja que só vendia pipas e linhas, não resisti e entrei. Tinha pipa de todos os times e o "carretelzão" completava o tema, com escudo dos dois lados. Na verdade o conjunto pipa e linha era bonito e, como a loja estava cheia, dava pra notar que vendia como água. Por alguns minutos me perdi naquele mundo colorido, depois segui meu caminho.

Na minha mente, ficaram as comparações. Eu soltava pipa na rua, em cima do muro, na caixa d'água, no campinho, no morro, telhado etc... Meu pai não podia soltar pipa comigo, só com meus primos, dizia que meninas não soltavam pipas, mas eu como sempre, não ligava, quebrava a regra.

O triângulo pai/filho/pipa de hoje me deixou encantada, uma bela comemoração num lugar bem escolhido, sem perigo de prender linhas e causar prejuízos. Uma maneira diferente de se comemorar a data.

As pipas de atuais me fascinaram, mas deixam de ter aquele gostinho do "feito por mim". Não se tem mais a criatividade em colar o papel fino com desenhos; fazer e usar a cola de farinha bem fininha para não manchar e deixar secando no sol; afinar cada vareta com cuidado para que ficassem iguais...Saudades dos meus peões, com suas rabiolas enormes, já não se tem mais por aqui, a máquina faz tudo, até a rabiola já vem pronta...

Se por um lado a modernidade trás benefícios para as crianças, por outro deixa a desejar. Infelizmente no ponto facilidade x criatividade a primeira sairá ganhando.

Espero ter em vida, tempo suficiente para poder ensinar aos meus netos as brincadeiras do jeito que aprendi, eles com certeza ficarão surpresos, ou quem sabe, acharão bem mais fácil comprar do que ter que fazer.

De uma coisa tenho certeza e afirmo com todas as letras: as dificuldades da infância em nada fizeram com que eu deixasse de ser feliz com minhas brincadeiras/brinquedos improvisados, eu era feliz!!! Acredito que muitos de vocês também tenham tido uma infância assim...

Glorinha Kohn
Enviado por Glorinha Kohn em 18/08/2010
Reeditado em 24/08/2010
Código do texto: T2446120
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