...DE QUANDO O SILÊNCIO SE TORNA UM ABISMO...

A voz parece de secretária eletrônica. Ela me pede para afastar o tédio do pensamento, e ela diz que sabe que vou me descuidar e que vou adoecer, pois já me conhece de outras épocas e que minha natureza nunca vai mudar. Eu desligo o telefone após ela me deixar um beijo saudoso e vou buscar o pão na padaria. Já de volta, deixo a margarina derreter, para sentir o aroma de família reunida nos fins de tarde de "domingos" que não existem mais, e fico pensando no que acabei de escutar. Eu não quero mais ouvir tristeza da voz dela, sobre um dia que eu deixei morrer. Não penso que morreu, apenas ficou no passado, assim que a porta bateu, o tempo correu depressa para nós, e o silêncio se tornou um abismo que acabou nos separando. Enquanto ela deixava seu cabelo balançando ao vento eu enlouquecia com as horas que sumiam do meu dia, e enquanto eu tocava violão no terraço ela se desesperava com as dívidas que eu não fazia. Eu queria as viagens longas para aproveitar cada segundo da vida fora da rotina enquanto ela se pendurava no celular para não se afastar do trabalho. Ela queria o brilho elegante das noites enquanto eu só queria saber da luz do Sol. Seguimos assim embaralhando nossas bobagens e características mesquinhas e acabamos por declarar guerra ao bom senso. Colhemos as derrotas que eram anunciadas por nossas atitudes e hoje o que nos resta é o som da voz pequena dentro de um aparelho qualquer num dia de aniversário. Parabéns!!! Espero que você tenha, assim como eu, aprendido a lição.