Direto ao ponto, Jabor.

Existem escritores cujos textos parecem terem sido escritos com os olhos fixos no interlocutor, numa conversa franca, aberta, cartas na mesa, nada nas entrelinhas, nenhum teor subliminar.

Vão direto ao ponto e no corpo do escrito, nenhum piscar ou levantar os olhos como que procurando o que dizer ou buscando o socorro da musa inspiradora para lhe ditar a melhor palavra, o rumo certo da prosa ou ainda os ritmo e rima adequados ao verso do poema.

Fico imaginando que escritores assim o são também na vida, bem resolvidos, objetivos, diretos, com capacidade de focar o mundo com seu poder de síntese, mas também competentes em olhar para dentro de si mesmos e estabelecer o diálogo interno. Verem a si mesmos e mesmo assim, esboçarem um riso de humor, às vezes irônico, outras complacente, generoso, mas sempre uma atitude nobre com o viajante no tempo e espaço a escrever sua história.

Inteligência e técnica são atributos que os acompanham, não sendo, porém, suas maiores armas de sedução. Estas são representadas pelo desprendimento e simplicidade como fazem chegar a nós sua mensagem, o que dá vontade de ficar ouvindo-os numa edição moderna das Mil e Uma Noites, fruindo do calor e aconchego com que acolhem o leitor.

Se precisasse citar um exemplo, eu diria o nome de Arnaldo Jabor: objetivo, direto, irônico, destemido, culto, sincero, bem articulado, generoso, principalmente com ele mesmo. Humilde, no sentido de que enfrenta e aceita a verdade do mundo e a sua própria. E ciente de que é um belo representante de Apolo.

10/09/2006