O PEQUENO MUSEU DE MIM...

Quando a Carmen me disse que a sua exposição teria este título, confesso que me bateu, e não pela primeira vez, uma vontade de roubá-lo para criar um poema e dá-lo a ele. Mas ao invés disso, divaguei a respeito, até chegar o dia de ela vir ao Brasil e apresentar a exposição “O pequeno museu de mim e outras histórias”, aqui em São Paulo.

Carmen Novo é artista plástica e jornalista, com especialização em Museologia. Realizou diversas exposições no Brasil, em Cuba, em Portugal e na França, onde vive, desde 2003. Como jornalista, os trabalhos que desenvolveu estiveram sempre ligados à cultura, à educação e a projetos sociais com a arte como tema.

Como artista plástica, uma das funções de Carmen é expor sentimentos através das suas criações. O que mais me admira nas obras dela é a forma como esboça esses sentimentos. Há um flerte entre o caótico e o deslumbrante, como na instalação “De tudo fica um pouco”.

Ultimamente, tenho notado o apaixonamento dela pela fotografia, levando para tal forma de registro do olhar o que também enxerga nas suas obras artesanais. É um encontro de linguagens, uma forma de tê-las num mesmo espaço, dizendo os sentimentos com propriedade e sutileza.

Sábado passado, fui à Galeria Quarta Parede para conferir “O pequeno museu de mim e outras histórias”, exposição de fotos em preto e branco, instalação e vídeos.

A exposição fotográfica “A vida das coisas” desperta uma série de sensações, como se estivéssemos contemplando retratos emocionais. As fotografias são capazes sim de contar histórias, através dos sorrisos, dos olhares, das máscaras, até mesmo através do cenário desolado, bagunçado pela ausência. Cada imagem tem sua própria história.

“O pequeno museu de mim...” também trata das coisas que se tornam essenciais para nós pela importância afetiva que delegamos a elas. Trata da biografia dessas coisas que não são apenas coisas, mas coleções de lembranças. Os vídeos exibidos tratam com muita sutileza do assunto. Eles construídos através da combinação de depoimento de donos de objetos fotografados pela artista. Esses depoimentos se tornam, então, a trilha sonora deste filme sobre objetos tão peculiares que cultivam zelo e benquerença nos seus donos. E ao percebermos a diversidade dos objetos, também compreendemos a diversidade das emoções que eles provocam nestas pessoas.

A instalação “Para guardar nossas lembranças” atiçou o meu desejo de adivinhar a narrativa escondida na obra. No fundo de pequenas latas metálicas, Carmen colocou fotografias de lugares, pessoas, animais, criando um cenário de possibilidades. São 32 latinhas fixadas na parede que, ao observá-las de perto, me davam a sensação de proximidade, porque era como se eu olhasse por um olho mágico, alcançando um lá fora que não era o meu, mas sim desse lugar misterioso, e ao mesmo tempo agradável, criado pela artista.

Pensando bem, “o pequeno museu de mim” é um título muito bom para um poema, mas acontece que a poesia dele já se encontra na construção de Carmen Novo. É no museu construído pela sua arte que vive essa poesia graciosa, capaz de despertar no observador a sensação de visitar um lugar no qual as coisas têm a vida que damos a ela.

Daylson Malltta
Enviado por Daylson Malltta em 18/08/2010
Código do texto: T2445201
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