CAPÍTULO XIV - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
(Carlos Drummond de Andrade)
21 de maio. Contaram-me que a passeata foi um sucesso e que tudo ocorreu sem qualquer problema ou contratempo. Tivemos a presença de cerca de 800 servidores que se puseram em marcha a partir das 14 horas.
O trajeto foi o seguinte: iniciou-se a caminhada nas imediações do no prédio do TRE, na Avenida Prudente de Morais, seguindo-se até a Avenida do Contorno. Em seguida percorreram um bom pedaço dessa avenida, passando em frente ao Colégio Loyola com gritos e palavras de ordem, apitaços, aplausos e muita manifestação de alegria e força por parte de todos os presentes.
À frente da passeata iam três artistas circenses vestidos com roupas multicoloridas e calçados com longas pernas de paus. Logo ali perto se encontrava a nossa querida e animada “bandinha da greve” que sempre participa e alegre as nossas manifestações.
Os servidores foram acompanhados durante todo o percurso por um pelotão de soldados da Polícia Militar e do batalhão de trânsito. O acompanhamento policial se faz necessário para que sejam evitados acidentes, para que o trânsito seja momentaneamente parado no momento em que os manifestantes estiverem atravessando ruas ou avenidas e, finalmente, para que as ruas não fiquem impedidas e a circulação de veículos não seja prejudicada em decorrência da manifestação.
No trajeto entre os prédios do TRE e do TRF, os manifestantes fizeram uma rápida parada em frente ao edifício-sede do IBAMA. Os servidores em greve daquele órgão foram ovacionados e elogiados pelos servidores do Judiciário Federal. Outros elogios e aplausos foram ainda endereçados aos professores e professoras da rede estadual de ensino. Estes se encontram em greve a aproximadamente quarenta dias.
Enfim, a passeata ocorreu conforme o previsto. A manifestação foi bonita tanto em termos de qualidade como de quantidade. Destaque-se o fato de que a passeata se espichava longa e alegre: enquanto os últimos servidores ainda se encontravam na junção das avenidas do Contorno com Prudente de Morais, os primeiros manifestantes já se achavam pela metade da Avenida do Contorno e daí a pouco atingiam a esquina da Avenida Álvares Cabral, junto ao prédio do TRF.
A manifestação terminou na porta do edifício Euclydes Reis Aguiar, da Justiça Federal. Ali os grevistas se deram as mãos e cantaram o Hino Nacional com orgulho e com o sentimento do dever cumprido.
Agora alguns informes deste e dos últimos dias: os servidores da Justiça do Trabalho de Uberlândia entram em greve a partir de segunda-feira, dia 24. Poços de Caldas (2ª. Vara do Trabalho) e Três Corações também já aderiram ao movimento e contabilizam 12 cidades paradas pelo interior de Minas Gerais. Além dessas, temos ainda: Diamantina, Montes Claros, Pium-í, Tombos, Uberaba, Teófilo Otoni, Rio Piracicaba, Contagem e Nanuque.
Houve também a confirmação de que os agentes de segurança e os oficiais e oficialas de justiça do TRT e do TRF aderiram à greve. Diversas Varas do Trabalho de Belo Horizonte se encontram igualmente em greve, mantendo apenas o percentual exigido nos chamados serviços essenciais definidos pelo comunicado da Presidência do TRT no dia 13/05: datilógrafo de audiências, balconistas e funcionários para o cumprimento dos despachos e determinações urgentes provindas da sala de audiências, tais como intimações, expedição de mandados, alvarás, ofícios, etc.
Finalmente, como os servidores de Brasília devem parar na próxima terça-feira, dia 25 de maio, esperamos a partir daí maiores avanços e resultados na negociação.