TIA PRIQUITA

Lêda Torre

Imoral! Esquisito! Também não! Esse era o nome de uma senhora, que se chamava Antônia, mas não sei porque cargas d’água, apelidavam-na de TIA PRIQUITA. E ela preferia inclusive este nome. Teve filhos, que cresceram e foram fazer suas vidas fora dali. Tentaram tantas vezes levá-la para o Rio de Janeiro ou São Paulo onde tinha filhos, para lhe dar uma vida melhor, e nada.

Era preferível viver ali na vida simples da roça, cuidando de animais e plantas e seus amigos. Pois bem, essa velhinha já está no andar de cima, mas ela faz parte das lembranças do interior. Essa senhora era sozinha, nenhum de seus filhos moravam mais com ela. Era teimosa que só uma mula! Não gostava de que alguém fizesse as tarefas de sua casa para ajudá-la. Fazia questão de tudo executar sem o auxílio de ninguém.

Era engraçada demais! Imoral, gostava muito de dizer palavrões, mas sua casa era cheia de crianças e jovens para ouvir-lhe contar histórias da Carochinha e de contar suas piadas engraçadas. Só que tia Priquita como era chamada, nunca andou de carro de espécie nenhuma, costumava dizer que jamais colocaria seus pés sobre qualquer coisa andante, como carro. Nunca andara nem de jegue, burro, cavalo, carroça ou coisa parecida. Nada. Ela dizia sempre, arribar os pés do chão, nunca!

De vez em quando ia com alguém visitar seus parentes em outros povoados por aquela redondeza, e fosse a distância que fosse, ela ia a pé, e era incansável a velhinha, quem a acompanhava, ficava sempre para trás. Com quem ela viajasse, ia de animal, como se dizia naquela época, pensando que uma hora ela cedesse ao cansaço, mas que nada!! Dona Antônia, a tia Priquita, agüentava firme, ninguém passava na sua frente, apesar de quase seus oitenta anos de idade.

Tinha um fôlego e tanto, que até deixava muita gente moça para trás. Era assim que ela vivia. E morreu bem velhinha, mas do mesmo jeito. Ficou lúcida até o fim. Mas não me lembro da origem desse apelido. Essas personagens exóticas fazem parte das nossas vidas. Essa senhora distinta era irmãzinha de meu avô paterno.

_____São Luis 18/08/2010_____________________________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 18/08/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2444506
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.