Ela
No toca-discos um velho vinil de Chet Baker e sobre a mesa um bourbon caro demais para nossos padrões. Ela diz que nunca lhe disseram palavras tão belas. Eu penso se as palavras são verdadeiras, ou ainda, se são de fato tão belas. Um caos tão grande que eu não sei se tais sentimentos são reais. Talvez eu tenha exagerado no bourbon. Talvez ela tenha superestimado minhas palavras. Não sei. Ela trocou o disco, colocou The Natch'l Blues do Taj Mahal – ela, definitivamente, sabe como me agradar - encheu nossos copos e, ao som de Corinna, acabamos novamente no chão da sala . Ela diz que precisamos variar e usar a cama. Eu apenas balanço a cabeça positivamente e dou um longo gole. Acendo um cigarro e encosto no sofá. Ela segura meu rosto com as duas mãos e pergunta, chorosa, se é verdade tudo o que lhe digo. Eu apago o cigarro pela metade e a beijo demoradamente. Ela me abraça com força e se desculpa pela tola pergunta. Cada um se ilude com os elementos que têm.