"O VELHO"

(Crônica dedicada ao Cientista e Escritor Isaac Asimov, que emprestou magia e vida ao mundo da tecnologia, através dos seus robôs encantados.)

Classificada em 1º Lugar Estadual no 12º Prêmio Missões promovido por Igaçaba Produções Culturais, de Roque Gonzales - RS.

Naquela manhã, ao abrir seus e-mails, Áurea teve uma pequena surpresa: entre as mensagens recebidas, encontrou uma de alguém que solicitava a sua amizade:

"Áurea, chamam-me "O Velho", quer ser minha amiga virtual?"

Sorriu e pensou que não lhe faria mal nenhum responder ao apelo misterioso:

"Concordo em ser sua amiga virtual. Mas, diga-me, porque o chamam de "O Velho"?"

"Porque eu trabalho em um Museu muito antigo, e também porque possuo conhecimentos universais. Tenho registrado em minha memória algo assim como "o Livro da Vida"... conheço galáxias distantes, o fundo dos mares e também sei tudo o que está acontecendo na História dos Povos. Estive na 2ª Grande Guerra, mas, querida, sou da Paz Já transmiti conhecimentos para várias gerações, e agora estou só, abandonado e carente de uma Amizade."

Áurea resolveu continuar com a conversa via e-mail:

"Mas, se você tem este cabedal de conhecimento todo, como pode estar abandonado e sozinho? Não tem amigos?"

"Algumas pessoas me visitam regularmente. Entre estas, visitam-me cientistas curiosos, mestres sedentos de mais conhecimentos e até crianças, querendo saber como eu sou. Adoro as crianças! Elas me fazem lembrar dos bons tempos da minha juventude. Hoje, os mais jovens estão no lugar que eu costumava ocupar."

A moça, com o decorrer da conversa, percebeu que o seu amigo virtual era realmente alguém muito importante, e sentiu-se mais à vontade nos seus questionamentos:

"Você não casou, não tem filhos...netos?"

"Casei com a vida e com o mundo. Casei com o Conhecimento. Se você quiser, posso falar de milênios de história antiga de todos os Povos, posso contar e nomear as estrelas do céu, e sei a quantidade de habitantes do fundo dos oceanos. Só não sei falar de Amizade."

Áurea entristeceu-se com a solidão de "O Velho".

Decorridos alguns meses de conversas virtuais, sobre assuntos emocionantes, ela decidiu que queria conhecer o seu estranho e solitário amigo.

"Como posso fazer para conhecer você de perto?"

"Já estava esperando uma pergunta parecida. Meu coração pula de alegria no meu peito: finalmente vou conhecer a minha amiga Áurea!"

"Dê-me o seu endereço. Tenho algum valor guardado para uma viagem especial na minha vida. Vou te procurar ainda neste ano."

"Moro um pouco longe de você. O Museu onde trabalho fica na Pensilvânia. Se você vier, eu a orientarei no caminho."

Áurea pensou que o seu amigo fosse uma espécie de guardião do Museu. Seria realmente uma situação muito original conhecer "O Velho".

A viagem foi longa e cheia de pensamentos especulativos: como seria este seu amigo virtual? Certamente, teria cabelos brancos, seria um pouco sério, mas sempre lhe parecera feliz. Desceu do avião, e continuou recebendo instruções via e-mail, através do seu Notebook de mão. Ao chegar na frente do Museu, o coração disparou um pouco, misturando adrenalina e emoção. Entrou pela imensa porta de entrada, passou pelos corredores que seu amigo indicava, e, finalmente, parou diante de uma sala com a porta fechada. Respirou fundo, e entrou, vagarosamente.

No interior da sala...que era enorme - havia um imenso computador, ligado, mas aparentemente, além dele, não havia ninguém.

"Olá! Tem alguém aí?"

Não obteve resposta, e começou a caminhar ao redor daquilo que era um dos maiores computadores que já vira.

Após um bom tempo de espera, o computador entrou em funcionamento, imprimindo uma mensagem num papel. Curiosa, Áurea aproximou-se do local da comunicação, debruçou-se sobre a impressora gigante, e, surpresa, viu que o bilhete era para ela. Dizia o seguinte:

"Seja bem-vinda, Áurea querida. Finalmente, posso tê-la perto de mim. Você, que me ensinou o que é uma amizade, é a pessoa mais esperada por mim, neste Museu."

Neste instante, onde havia uma luzinha eletrônica no computador, acendia e apagava, como se todo ele estivesse sendo colocado em funcionamento.

Áurea pensou que alguém estava em outra sala, ou escondido em algum lugar entre os aparatos do imenso computador. Começou a procurar por seu amigo, em vão. Na impressora, uma nova mensagem a aguardava:

"Não me procure. Você já me achou. Deixe que eu me apresente: sou "O Velho", seu amigo aposentado. Você é muito bonita."

A moça demorou um pouco para perceber que "O Velho", finalmente, era um computador.

Apenas um imenso, solitário e abandonado computador, exprimindo, humanamente, o sentimento de solidão, atraindo-a para aquele Museu, onde, num piscar de olhos, sua vida perdeu completamente a lógica e a racionalidade.

Seu amigo virtual, era um computador!

SALETI HARTMANN

CÂNDIDO GODÓI-RS

saletihartmann@gmail.com

SALETI HARTMANN
Enviado por SALETI HARTMANN em 17/08/2010
Código do texto: T2444307
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