O quê falta ao exemplo?
Então, do que é que um adolescente honesto precisa para arrumar uma namorada também honesta nessa vida?
Pelo visto, um milagre.
Mas, antes que esse milagre acontece, deixem que eu dê minha versão de um adolescente honesto.
Antes de mais nada, é um homem de 15 à 18 anos. Uma pessoa alegre, simpática, mas, como todo adolescente, tem alguns problemas.
Talvez, e somente talvez, o problema dele seja apreciar demais videogames. Somente talvez.
E não gosta muito de festas. Baladas, raves, bailes funk e etc. Não gosta de dançar. Não compartilha o gosto musical da maioria das pessoas, que ignoram a letra do que escutam, e levam bandas como Parangolé, ao sucesso.
Ele prefere música internacional. Rock, um pouco de rap. Esse tipo de coisa, que por não surgir no século 21, possui uma identidade bem construída.
Ele também não anda com os “populares” no colégio. Não vive de “ficadas” com meninas, nem tampouco de litros de álcool em festas. Álcool que em lei é proibido para menores de 18, correto?
De qualquer forma, esse nosso bom adolescente gosta de estudar. Sonha com uma carreira de sucesso e procura dedicar sua juventude à atingir esse objetivo.
Todo esse resumo de qualidades, ou defeitos (conforme o leitor que lê), fazem dele um pseudo-excluído da sociedade.
É excluído, marginalizado e perseguido pelos boyzinhos populares, mas goza de certo reconhecimento, entre seus poucos amigos também honestos.
Mas ele sente falta de alguma coisa, ou melhor, de alguém. Sente falta de alguém com quem dividir uma noite, um abraço, um beijo...
Pois bem, sente falta de uma namorada!
Não é infeliz por causa disso, mas seria bem mais feliz se tivesse alguém.
E nos dias de hoje, como conseguir?
Os únicos rapazes que fazem sucesso com as damas, não são aqueles honestos, que como nosso exemplo, tem uma identidade e gostos diferenciados dos outros.
Os que fazem sucesso são os boyzinhos. Os pegadores. Ou como nosso exemplo prefere chamá-los, os merdas.
Rapazes totalmente superficiais. Só se preocupam com a aparência e com o reconhecimento externo. O total oposto do nosso exemplo. Vivem na balada, pegam a maioria das meninas que nosso exemplo conhece, e são os mais famosos.
E infelizmente, o nosso exemplo tem outro problema ainda!
Quem seria uma pessoa certa para ele?
Quando ele olha em volta, existem dois tipos de garotas: as superficiais, que vivem lendo revistas como Capricho e Atrevida, que gostam de Crepúsculo e tem diversos posters do Justin Bieber. As presas favoritas dos boyzinhos. Afinal, já que ambos os lados são ácefalos, tudo acontece de uma forma mais simples.
O outro tipo, são aquelas garotas que realmente chamam a atenção do exemplo. Na maior parte do tempo discretas, até um pouco tímidas.
Como ele, possuem um grupo exclusivo e reduzido de amigas, embora tolerem a existencia das suas antagonistas superficiais.
De qualquer forma, essas garotas são as bonitas aos olhos do exemplo. Dentre às superficiais, há uma amplitude muito maior.
As superficiais ou são infinitamente lindas, Minervas gregas de se parar o trânsito, ou, medusas tão horrendas que transformam quem as olha em pedra.
As discretas, são relativamente normais. Provavelmente não se saíriam bem como modelos, mas tem uma ou duas características físicas singulares que lhe dão certo destaque na multidão.
Acabam sendo as mais lindas de todas. As mais inteligentes e simpáticas, perfeitas para o nosso amigo exemplo.
Mas o coitado do exemplo enfrenta um problema nesse século 21, as discretas não querem saber muito dele.
E isso nos leva ao começo do texto.
Inicialmente, quando o exemplo se aproxima de uma discreta, começa a se encantar por ela e definitivamente se apaixona, ela só se interessa pela amizade.
O exemplo escutou isso várias vezes na vida. E é algo que dói bastante, mas que ele não pode fazer nada.
Aparentemente, as discretas também se interessam pelos merdas. Sim, os merdas. Aqueles que se acham donos da sociedade e do tempo em que vivem.
Aqueles que vivem uma vida que vai matá-los antes dos 30 anos. Sim, esses. Filhos de advogados de honestidade duvidosa. Com seus carrinhos populares rebaixados, para dar uma impressão de sofisticação.
O exemplo não pode competir com eles. É filho de uma professora, a profissão mais denegrida salarialmente do país. Anda de ônibus. Não tem muito dinheiro para comprar calças Calven Klein, muito menos aquele carrinho rebaixado.
Enfim, como salvar o exemplo dessa vida solteira?
Existe um período mais cruel para ser solteiro do que a adolescencia? Não, não existe. É justamente nela quando você mais precisa de alguém para levar no cinema, na pizzaria, ou mesmo andar pelo calçadão da praia de mãos dadas.
Mas, mesmo que o exemplo se aproxime aos poucos daquela garota, e com uma cautela e jeitinhos cinematográficos de agradar, dificilmente ele vai conseguir que aquela seja sua namorada.
E aí, tudo o que ele vai escutar é que ele deve esperar pela pessoa certa.
Não existe pessoa certa. Existe a experiência certa. Experiência de vida. E o exemplo gostaria de viver suas experiências antes de chegar na faculdade de preferência.
Afinal, é preciso errar várias vezes antes de se acertar definitivamente. É preciso se machucar, se magoar, mas também é preciso viver e ser feliz.
E até agora, o exemplo não conseguiu.
O que será que falta nele? Ou estaria a falta nessa sociedade que foi construída para favorecer as impressões, ao invés do conteúdo?