Kahlil
Estou apaixonada. Apaixonada pela possibilidade de que algo especial aconteca. Ainda não aconteceu, mas venho perdendo vários minutos imaginando o futuro ou repensando no passado, lembrando cada passo de dança desengonçado que dei; cada gole de água que tomei; cada voltinha em seus braços; cada beijo demorado; cada toque em seu cabelo. Já não sei o que pensei, o que penso. Só penso com imaginação, e imaginar é projetar-se na impossibilidade de ser o que não se sabe o quê. Aliás, muitas vezes pensar é imaginar.
É estranho sentir saudade de algo que não vivi, que nem sei se existirá. Sou uma predestinada a viver de imaginação, a gostar mais dos sabores etéreos que das rochas fincadas. O inalcançável me distrai. O alcançável, entendia. Gosto de desculpas. Gosto de pensar no que poderia ter sido. Estou sempre subindo degraus, ignorando andares, números e portas. O que gosto é andar, andar, andar... e olhar a escada lá de cima, imaginando o que seria se não tivesse subido para o próximo andar.
Quando você apareceu naquela noite, quebrou toda a minha imaginação. Jogou-me no salão das oportunidades. E fiquei com medo. Ainda estou. E isso não sai de minha cabeça. Tenho medo de não se lembrar de mim, se, porventura, nos encontrarmos novamente. Tenho medo de que o alcool nos tenha enganado.
Você é lindo. Seus braços são fortes. Você tem nome árabe. Você é moreno. Você é legal. Você é alto. Sempre imaginei algo como você. Nunca escrevi nada semelhante a alguém. Nunca. Não quero, do fundo da minha alma, que fique só na minhas aspirações. Quero rocha. Quero terra. Quero você. Mas tenho vergonha.
Detesto esse vício.
Auto-destruição é uma droga.