No banco da Praça
Sentado no banco da Praça da Liberdade
Dialogo com o ar através de suspiros.
Sou cidadão? Sou homem? Sou político?
Um indigente? Sou gente? Sou religioso?
Não importa.
Para quem passa sou cenário da praça.
Seja lá o que eu for, só sou pra mim.
Ninguém respeita minha opinião.
Nem as buzinas dos carros respeitam meu silêncio.
Meus poemas só fazem sentido pra mim, os pássaros e as estrelas.
Abro um livro, tento desviar meus pensamentos para os pensamentos dos outros... pra quê?
Fecho o livro.
Faço projeto para ganhar dinheiro e esqueço fazer projeto pra ganhar felicidade.
As crianças têm razão, eu não.
Dar pra ser completo sem se ter tudo.
Mas já estou no fim, já era.
Caí nas armadilhas deste mundo:
Fizeram-me patriota e esqueci do resto da humanidade.
Injetaram-me cultura industrializada e religiões monetárias.
Presto contas agora para o leão e para Deus.
Ensinaram-me a ser burro e sem graça.
Meus amigos e os papos: boteco, cerveja, mulher, futebol e corrupção.
Protestos que não saem da mesa do bar.
Meu passado, já passou!
Meu futuro, sei lá!
Meu presente, meu relógio...
- Nossa! Está na hora do meu ônibus passar...