O menino e o furúnculo

Eu tinha uns onze anos de idade, na época e tudo começou com um incomodo nas costas. Passados alguns dias, aquela dor já era latente e começou a ficar aguda. Como era numa região onde eu não conseguia colocar os dedos da mão, eu tentei ver pelo espelho o que seria tal incomodo. Acreditei que fosse uma espinha ou uma picada de inseto.

Já eram mais de quatro dias e aquela dor estava beirando o insuportável, foi aí que pedi que minha mãe visse o que estava acontecendo nas minhas costas.

Ela mal olhou e disse que se tratava de um furúnculo.

Eu não fazia a mínima ideia do que seria um furúnculo, mas minha mãe colocou uma pomada para que a dor fosse aliviada e o organismo expurgasse aquele abscesso naturalmente.

Eu não sabia o que era pior: não saber o que me trazia tal incomodo às costas ou saber que se tratava de um furúnculo. As minhas noites eram mal dormidas e às manhãs eu acordava com o cansaço de um estivador.

Eu não aguentava mais tanta dor, tanto sofrimento por causa de tudo aquilo e por mais que eu fizesse tudo segundo as orientações da minha mãe, a dor não diminuía.

Até que uma vizinha que fora visitar minha mãe num fim de semana, viu que eu estava muito quieto no sofá e perguntou o que havia acontecido e minha mãe explicou que era por causa de um furúnculo.

A vizinha pediu para ver e ficou abismada com o tamanho do abscesso e pediu autorização para que pudesse espremer o local.

Como assim espremer? Pensei. Minha mãe e eu, quase que uníssonos, protelamos que já havíamos aplicado medicação e que a cura seguiria o seu curso natural, mas a vizinha não se fez de vencida e acabou convencendo-nos de espremer o furúnculo.

Quando eu senti os polegares de suas mãos querendo se fundir, sendo que estavam impedidos pela minha epiderme, eu sentia calafrios de tanta dor. Minha mãe observava tudo aquilo com muita solidariedade e só fui sentir alívio quando a vizinha declarou: “Pronto! O furúnculo não existe mais".

Durante alguns minutos ainda sentia a epiderme latejando, mas depois de alguns minutos mais, a disposição de jogar futebol com os meninos da vizinhança já tinha sido recuperada.

À noite, consegui dormir como um bebê que não tem do que se preocupar, a não ser quando o seu organismo clama por sustento. Como foi maravilhosa aquela noite de sono!

Desde aquele dia eu aprendi que há dores que não podem ser tratadas de maneira paliativa; elas precisam ser expurgadas por mais que sintamos a dor em nosso físico.

Não se trata de um depoimento masoquista, mas de uma declaração de alguém que descobriu que para curar uma dor, talvez o melhor caminho seja sentir uma dor maior que tal e que após aquela aparente perda de controle, já não nos sentimos como sendo detentores daquela dor.

Fica a dica: Nunca tente remediar dores que precisam ser expurgadas.

Luiz Vieira
Enviado por Luiz Vieira em 16/08/2010
Código do texto: T2441272
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