ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU
- Dedico esta crônica à colega Kátia Pereira... e ao seu sorriso!
Desde quinta-feira última, quem olha para o céu, à noite, pode observar uma estrelinha nova, brilhando abaixo do Cruzeiro do Sul. É o Levy! Como não existe a Constelação do Galo (Clube Atlético Mineiro), este atleticano apaixonado, provocador, foi morar definitivamente vizinho ao símbolo do seu maior rival no futebol - o Cruzeiro. Aliás, já me diziam desde o tempo de criança: “As pessoas não morrem, ficam encantadas, ou viram estrelas no firmamento!” Enquanto peregrinou por nosso Vale de Lágrimas, este homem com alma de menino brindou a todos que ‘usufruimos’ da sua amizade - protagonizando estórias das mais hilariantes em Bom Despacho.
Como esta, dada e passada num domingo à noite... Todo mundo (até eu!) está careca de saber que neste dia e horário o comércio da cidade não funciona, inclusive o ‘Carrefui’ - seu carrinho de vender frutas -, tradicionalmente estacionado a porta da agência do Banco do Brasil. A única movimentação é de pessoas seguindo para a missa das sete, na Matriz. O paradeiro é tanto que dá para atravessar a Praça - pelado - e ninguém se escandalizar! Porém, excepcionalmente, o ‘Carrefui” funcionava. No meio da semana, aproveitando oferta de um atacadista, o Levy comprara sacas de laranja a mais que do costume; a fruta encalhou, e como perde fácil não teve melhor altenativa, que senão abrir o comércio fora do habitual.
Apesar do vento frio, não demorou nada ele tinha a companhia do Zé da Sorte e sua irmã Tiniu - conhecidos cambistas -, que desconfiados de uma possível movimentação extra, pegavam carona para vender tiras de loteria. Também de patrulha, mas sem ocorrências policiais a cumprir, o sargento Quintino resolveu estacionar a viatura da PM, próximo ao “Carrefui” - para uma troca de ideias com o Levy, o Zé e a Tiniu.
Cutucando na cintura do homem de armas, a desinibida senhora passou a especular sobre o que eram e para que serviam aquelas “argolas prateadas”. - São algemas, usadas para prender ladrão, bandido... Explicava, paciente, o militar, quando antecipando-se ao final da lição, a Tiniu, curiosa como compete às mulheres ser, propôs entre baforadas de cigarro: - Me prende na grade da porta do banco!... No que foi atendida, de pronto.
Todavia, bastou a mulher ver-se algemada, que uma pomba-gira baixou e em pânico a cambista principiou o maior escândalo, exigindo aos gritos que fosse libertada imediatamente! Como nestas horas o Diabo aprecia tirar suas casquinhas, quem diz que a chave funcionou? - Bem feito! Recriminou Zé. Quem mandou ser este purgante-de-sal-amargo, que é. Agora, se afumente!... Há muito o Quintino - militar de boa paz - não prendia larápios e meliantes, e por falta de uso as algemas haviam enferrujado a trava.
Terminada a missa, atraída pela gritaria da Tiniu, uma pequena multidão se aglomerou junto ao ‘Carrefui’ - correndo o boato de que a mulher fora pega tentando assaltar o banco. O sargento, suando às bicas, imaginava o boletim que teria que responder no quartel, caso não destravasse as malditas algemas! Quanto mais a Tiniu esperneava e dava de braços, mais apertadas elas ficavam no seu pulso. Como não deixa de acontecer nestas ocasiões, um gaiato da assistência palpitou: - Diz que quando é assim, tem que cortar a mão da pessoa, pra soltar... Foi demais! A Tiniu escalou seu time titular e reserva de palavrões! Contrariado, o Zé coçava o queixo. Até que o Levy, ajeitando a franja na testa - cacoete seu -, na maior calma do mundo perguntou ao sargento Quintino: - Autoridade, quando a máquina de descascar laranja emperra, eu pingo nela umas gotas de óleo queimado, que guardo aqui no ‘Carrefui’... Será que serve?