O Que Eu Deixei de Dizer...

A monotonia de um casamento, geralmente, começa entre os três a quatro anos. Não quero, como não posso dizer que essa regra seja aplicada a todos os casamentos em declínio mas, para mim e para os noventa e cinco por cento dos casamentos falidos essa regra foi e é válida.

Não que eu desejasse fazer parte dessa triste e mesquinha média. Quando me casei foi com o intuito de ficar casado para sempre com a mesma mulher.

Ainda hoje me lembro do início do nosso relacionamento; os atritos voluntários de corpos em volúpias na atração e cumplicidade; a entrega do prazer; a gula da paixão, a ânsia do desejo pela união dos corpos que, transformavam-se em um único corpo. E aquela entrega total era tudo o que eu queria... era tudo o que queríamos ou, pelo menos, tínhamos prometido.

Como se podia perceber, tudo era normal; até as brigas corriqueiras faziam e ainda fazem parte da vida de um casal. Com o passar do tempo tudo mudou e eu pensava que ela não mais me amava. Não era preciso que a mesma me falasse; eu sentia o seu olhar cada vez mais distante. As nossas conversas chegaram a escassearem-se e até as promessas, que sempre declamávamos, não mais foram ouvidas. Pelo que eu percebia, parecia que as dificuldades financeiras tinham sido o ponto de partida para o rompimento de anos de um relacionamento que nós sonhávamos jamais ter fim.

Mesmo sem nada falar, eu sentia que ela já não era a mesma. Percebi que os nossos diálogos a cada dia ficavam mais e mais escassos. Sentia que a indiferença mais forte; sentia isso na pele aumentando assim o meu sofrimento. Mesmo sem ela ter declarado, eu via aquela chama da paixão reduzida a cinzas da solidão do desprezo.

Onde foram parar todas aquelas juras de amor, sinceridade e palavras que ofereciam eternidade de vidas juntas?

Com aquela situação, cheguei a acreditar que todas as mulheres fossem iguais; egoístas, interesseiras e incompreensivas.

Eu pensava estar certo ou mais que certo. Dei-lhe tudo o que precisava; dinheiro, jóias, roupas caras das boutiques de Copacabana... Tudo, tudo para tentar agradá-la– e mesmo assim, eu não conseguia satisfazê-la.

Sega! Ingrata, ordinária! Fiz de tudo para faze-la feliz e mesmo assim ela não compreendia que tudo o que eu fazia, era a fim de salvar um casamento em declínio, salvar o casamento que estava desgastado, sufocado e que pedia socorro. Eu me sentia qual uma pedra de gelo no asfalto em pleno verão; aquele sorriso de criança que transparecia em sua face, quando em namoro, que era a vida aflorando na felicidade ia sumindo com o passar dos dias, com o passar dos anos...

Os momentos felizes que passamos juntos foram desaparecendo a cada amanhecer, qual uma vela de um barco em direção ao alto-mar.

Aproximadamente quatro anos de um relacionamento, por fim, a esperada e insuportável separação. Falo insuportável por sentir que ainda a amo. Mas restou-me as interrogações:

– Se dei-lhe tudo; dinheiro, roupas caríssimas, viagens ao exterior... O que mais lhe faltou? Se nos amávamos, o que faltou para que o nosso amor não tivesse naufragado no silêncio de sentimentos reprimidos? O que nos faltou para viver um sonho a dois, viver a felicidade?!

Só hoje, depois de muito me lamentar, de sofrer e fazer sofrer, percebi que me lembrei de tantos bens materiais e esqueci das coisas mais importantes... Esqueci de dizer poucas e pequenas frases que fazem despertar a vida; fazem despertar um amor adormecido... Faltei dizer três palavras simples, fantásticas e mágicas... faltei dizer:

“–EU TE AMO!!!”

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 19/09/2006
Código do texto: T243832