INOVAR SOCIALMENTE

É hoje consensual encarar-se o conceito de Inovação Social como forma de encontrar novas respostas para as necessidades sociais emergentes, ou seja, resolver os problemas da exclusão social, da ausência de qualidade de vida e da falta de participação cívica e democrática.

A Inovação Social implica, pois, várias vertentes - que vão da educação ao emprego, das comunidades e respectiva capacidade de participação, até a aspectos que envolvem a saúde e o bem-estar. Para tanto, é necessário encontrar novas soluções e reinventar as actuais para que tenham mais qualidade, mais impacto e mais eficiência. Novas respostas e novas estratégias se tornam urgentes, no que concerne à resolução dos problemas sociais, especialmente nas áreas em que estes se estão a agravar, nos aspectos em que os modelos actuais falharam - ou estagnaram - e onde há novas possibilidades que não estão a ser exploradas. Com efeito, sofremos o agravamento não só das alterações climáticas como do envelhecimento da população, sentimos que a participação democrática, a justiça e a educação devem ser repensadas e pugnamos, por exemplo, pelo uso inteligente de tecnologia na habitação e na saúde.

A Inovação Social é, já de si, uma resposta nova, socialmente reconhecida, geradora de mudança social. No entanto, essa transformação pressupõe a concretização de necessidades humanas não satisfeitas por via do mercado, aliada à promoção da inclusão social e à capacitação dos agentes sujeitos a processos de marginalização.

Amplo é o âmbito da Inovação Social e grande tem sido a sua evolução.

Nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX, o conceito confinava-se aos domínios da aprendizagem e do emprego e, só a partir de então, passou a contemplar as políticas sociais e as do ordenamento do território. Hoje, a sua natureza é vista como transversal e não mercantil, o seu carácter contempla «o colectivo» e a sua intenção é geradora de transformações sociais: não há Inovação Social sem atitudes críticas e desejos de mudança.

A Inovação Social emerge e desenvolve-se em meios criativos. Estes devem ser flexíveis e ao mesmo tempo organizados, sofrendo transformações sem a perca de identidade. Um lugar criativo pressupõe diversidade sociocultural (associada à abertura ao exterior), tolerância (na medida em que permite o risco de inovar) e democraticidade (já que implica a participação activa dos cidadãos).

Geoff Mulgan considera que, «nos últimos 100 anos, as pessoas foram ficando familiarizadas com a ideia de inovação, ligando-a sempre a avanços tecnológicos, sem perceberem que boa parte dos ganhos na saúde e na educação não tinham uma origem tecnológica, mas sim numa maneira diferente de organizar as coisas». De acordo com este estudioso, «a ideia de inovação social é muito simples: inovar sistematicamente nas soluções para os nossos problemas sociais».

Os estudos económicos estimam que 50% a 80% do crescimento económico mundial venha da inovação e do conhecimento. Há sinais de que a inovação social tem um papel cada vez maior nesse processo. 20% a 30% do produto interno bruto estará ligado aos sectores da saúde, da educação, das energias verdes e dos cuidados com os mais velhos.

Por outro lado, são os problemas sociais que proporcionam uma pressão saudável para a inovação. Nos próximos anos, a crise vai deixar muitos problemas por / para resolver e não pode ser o Estado sozinho a encontrar as soluções através da via tradicional. A ideia da inovação social parte do princípio colaborativo, de que todos somos mais inteligentes que cada um, e são essas ideias que têm o potencial transformador da sociedade.

ANTÓNIO CASTRO

In Revista "Saber"

(Direitos Reservados)

(António Manuel Antunes de Castro)
Enviado por (António Manuel Antunes de Castro) em 14/08/2010
Código do texto: T2438061
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