Filho do Árbitro
Todo mundo fala da mãe do árbitro de futebol. Ou por chingar mesmo, ou por pensar o quanto ela é chingada.
Mas quem é que pára para pensar no filho do árbitro? Árbitro de futebol também tem filho sabia? E eu, por obra do destino, era o filho do árbitro.
Aquele lá, que no dia dos pais (veja que conveniente), apitou o jogo entre Flamengo e Corinthians. O jogo mais importante, ou ao menos, o mais assistido no Brasil.
Afinal, quem não torce a favor de Corinthians ou Flamengo, certamente torce contra.
Mas a arbitragem naquele dia não foi das melhores.
Meu pai podia ter expulsado um jogador ou dois. Marcado essa ou aquela falta, mas enfim. O brasileiro só vai conseguir torcer feliz quando entender que árbitro é humano, e infelizmente, erra. Mas, graças ao tira teima, nunca isso será aprendido.
O árbitro só vai errar por que é um filho da puta. Bandido safado, ladrão filho de uma cachorra. Entre outras coisas mais.
O problema, é ficar escutando isso quando o cara é seu pai.
Naquela bendita segunda-feira depois do jogo. É um saco.
Eu sou torcedor do Corinthians, sempre fui graças a Deus. Não posso falar para quem meu pai torce. Se falasse, vocês iriam de certo xingar ele novamente.
E naquele dia dos pais, o Corinthians ganhou. Mas não foi para me agradar. O corinthians foi infinitamente superior naquele domingo. Infinitamente.
Mas meus colegas de turma flamenguistas entenderam isso? Claro que não.
“Poxa hein, com um pai árbitro é muito fácil ganhar clássico”.
“Por que você não pediu pra ele apitar na libertadores também seu vacilão?!”.
Dessas e outras escutei muito.
Outras bem piores, diga-se de passagem.
Mas assim como meu pai, árbitro, eu também tenho que aceitar levar xingamento de torcedor de cabeça fria.
Afinal, são ossos do ofício.