A velhice que irradia paz

De sua cadeira, uma senhora observa indiferente o movimento desenfreado dos passantes na estrada.

A pele negra se contrasta com os enormes cabelos brancos.

Não sei por que, mas a sua figura irradia paz. Olho e vejo alguém que já viveu muito. Batalhou e agora não tem pressa e não se importa com o tempo.

Eu, ao contrário, ainda disputo com o relógio e vivo procurando encontrar uns minutos que sejam para realizar as minhas atividades.

Como a invejo!

Gostaria muito de poder parar um pouco e conversar com ela. Tentar através das palavras subtrair um mínimo de sabedoria e um mínimo de paz.

No entanto, sou como todos os demais passantes. Passo correndo. Apenas não sei se eles, como eu, notam a magnitude da sua figura tão despojada encima de uma cadeira. Fico pensando quantos anos terei que percorrer para conseguir conquistar esses raios de paz. Ter-se-ei a felicidade de atingir esses degraus árduos de um envelhecimento orgulhosamente digno.

Não é por acaso que reflito a esse respeito. Nossa sociedade atual vive pregando a juventude eterna. Cirurgias plásticas, botox e outras coisas tantas que se inventam e podem ainda se inventar.

Comentam que a perfeição da pele e do corpo levanta a auto-estima. Não pretendo criticar quem queira ser jovem eternamente através dos recursos estéticos que a evolução permite. Cada um deve ser feliz como bem aprouver.

Observando aquela senhora, com o rosto enrugado e sereno, minha mente dissipa quaisquer dúvidas: Daria qualquer cirurgia plástica ou botox em troca de seu envelhecimento que transborda paz.

Correr contra o tempo e enganar a natureza. É para atender um apelo íntimo ou um apelo de uma sociedade preconceituosa que valoriza demais a casca e o enfeite externo?

Será que não se pode ter ruga e cabelo branco e ser feliz?

Descobri a resposta para minha dúvida olhando essa senhora tão linda em sua velhice!

Eu quero muito ser assim: Envelhecer irradiando a paz!

Penso que, afinal de contas, o que realmente interessa é o meu bem estar íntimo. Eu me sentir bem comigo mesma independente de espelhos e convenções estéticas.

Essa certeza é sempre reforçada quando passo e vislumbro o objeto de minha admiração particular.

Quando era criança eu sabia o que queria ser quando fosse crescer.

Hoje adulta e não tão longe de entrar na casa da terceira idade eu não tenho nenhuma dúvida: Eu quero mesmo é poder envelhecer.

E irradiando paz...