Não matem
Sakineh Ashtiani
Sou mais um a sair em defesa da iraniana adultera.
Oh! Por este crime, não matem a bonita Sakineh Ashtiani. Com seu véu negro, olhos suplicantes, semblante entre tranquilo e assustado, ela me pareceu mais uma santa do que uma pecadora.
Acusam-na da prática de adultério; crime que, pelas leis dos seu pais, deve ser punido com a pena de morte, nas modalidades de apedrejamento ou enforcamento.
Saio em defesa dela sem a pretensão, claro, de querer ensaiar uma discussão sobre o caráter religioso que porventura envolva sua condenação.
Respeito, sem restrições, o credo muçulmano.
Saio em defesa dela porque, até onde me foi dado acompanhar, sua execução pode ocorrer sem que lhe tenha sido concedido o direito sacrossanto da mais ampla e irrestrita defesa.
Ela não teria tido a oportunidade de apelar, livremente, para as instâncias superiores do Poder Judicíário iraniano, se é que por lá se admite o "grau de recurso" a Tribunais maiores, distintos e independentes.
Sim, porque no decorrer do processo, os senhores juizes ficariam conhecendo melhor os verdadeiros motivos que a levaram a cometer o adultério para, então, prolatarem um sentença juridicamente correta, o que vale dizer sem excessos, sem praticar injustiças,
Afinal, teria sido ela a única culpada nesse episódio:
Ou circunstâncias outras a levaram a prevaricar como, digamos, a presença na sua vida de um mal companheiro que lhe frustrou os sonhos e que por isso ou aquilo não lhe foi permitido deixar o barco a tempo?
Pecando, não estaria Sakineh a procura de dias mais felizes?
Não estou aqui, claro, a defender a infidelidade conjugal, mas a dizer que, se ocorrer, não é a execução sumária do adúltero ou da adúltera que vai lavar a honra do cônjuge traído.
Compreende, caro leitor?
Quanta violência em coisas do coração! Adulterou, morreu: que história é essa?
Leio que o Alcorão não prevê a pena de morte, por apedrejamento, nos casos de adultério. Deem, agora, vez ao Alcorão, o livro venerado pelos muçulmanos.
Para eles, o Alcorão fora diretamente revelado por Deus ao profeta Maomé. E por isso, como ressalta uma esclarecida colunista do "Amai-vos", site católico, para o islã, o Alcorão "não é modificável, na forma e no fundo, no espírito e na letra".
Ah, mas Sakineh está sendo punida nos termos do Xarai. E o que é o Xarai? Me disseram qué "é o nome que o Islã dá ao seu código de leis". De acordo com esse Estatuto, são punidos com apedrejamento os adúlteros, adúlteras e os homossexuais.
Tudo bem. As leis são feitas (algumas mal feitas) para serem obedecidas.
Ora, se o Alcorão, o Livro Sagrado, não castiga os adúlteros com a pena capital, não seria o caso de se abolir, de vez, esse tipo de punição, livrando a iraniana e outros partrícios seus desse martírio?
Lembro que Jesus, mesmo conhecendo o envolvimento da samaritana com cinco homens, não a mandou para a forca. Perdoou-lhe os pecados.
Peço a Maomé que livre Sakineh Mohammad Ashtiani, a iraniana adultera, da morte.
Ainda prevalece a sábia observação de Pascal, segundo a qual "o coração tem razões que a própria razão desconhece".
Como estaria o coração da iraniana condenada no momento em que resolveu "mudar" de leito? Isso foi devidamente apurado?
O mundo confia na generosidade do governo do Irã, tão cioso na defeza dos Direitos Humanos.
O presidente Amahdinejad deveria ler um dos livros mais aplaudidos quando o assunto é aplicação correta das penas aos criminosos de todos os quilates.
Falo do livro de Cesare Beccaria, Dei delitti e delle pene [Dos delitos e das penas] que, já no século 18, condenava, com argumentos procedentes e contundentes, a aplicação da pena de morte.
Para o belo jurista italiano - tão amado pelos estudantes de Direito e por nós advogados - "a pena de morte é ainda funesta à sociedade, pelo exemplo de crueldade que dá aos homens"
Adulterou, morreu. Como entender isso em pleno Terceiro Milênio?
Maomé há de compreender o drama de sua filha Sakineh, e, na hora certa, atender os apelos que o mundo faz, neste instante, pelo abrandamento de sua pena.
*** *** ***
Nota - Surgem notícias de que o Irã recua na sua decisão de matar Sakineh. Mas mantenho o que escrevi acima.
Sakineh Ashtiani
Sou mais um a sair em defesa da iraniana adultera.
Oh! Por este crime, não matem a bonita Sakineh Ashtiani. Com seu véu negro, olhos suplicantes, semblante entre tranquilo e assustado, ela me pareceu mais uma santa do que uma pecadora.
Acusam-na da prática de adultério; crime que, pelas leis dos seu pais, deve ser punido com a pena de morte, nas modalidades de apedrejamento ou enforcamento.
Saio em defesa dela sem a pretensão, claro, de querer ensaiar uma discussão sobre o caráter religioso que porventura envolva sua condenação.
Respeito, sem restrições, o credo muçulmano.
Saio em defesa dela porque, até onde me foi dado acompanhar, sua execução pode ocorrer sem que lhe tenha sido concedido o direito sacrossanto da mais ampla e irrestrita defesa.
Ela não teria tido a oportunidade de apelar, livremente, para as instâncias superiores do Poder Judicíário iraniano, se é que por lá se admite o "grau de recurso" a Tribunais maiores, distintos e independentes.
Sim, porque no decorrer do processo, os senhores juizes ficariam conhecendo melhor os verdadeiros motivos que a levaram a cometer o adultério para, então, prolatarem um sentença juridicamente correta, o que vale dizer sem excessos, sem praticar injustiças,
Afinal, teria sido ela a única culpada nesse episódio:
Ou circunstâncias outras a levaram a prevaricar como, digamos, a presença na sua vida de um mal companheiro que lhe frustrou os sonhos e que por isso ou aquilo não lhe foi permitido deixar o barco a tempo?
Pecando, não estaria Sakineh a procura de dias mais felizes?
Não estou aqui, claro, a defender a infidelidade conjugal, mas a dizer que, se ocorrer, não é a execução sumária do adúltero ou da adúltera que vai lavar a honra do cônjuge traído.
Compreende, caro leitor?
Quanta violência em coisas do coração! Adulterou, morreu: que história é essa?
Leio que o Alcorão não prevê a pena de morte, por apedrejamento, nos casos de adultério. Deem, agora, vez ao Alcorão, o livro venerado pelos muçulmanos.
Para eles, o Alcorão fora diretamente revelado por Deus ao profeta Maomé. E por isso, como ressalta uma esclarecida colunista do "Amai-vos", site católico, para o islã, o Alcorão "não é modificável, na forma e no fundo, no espírito e na letra".
Ah, mas Sakineh está sendo punida nos termos do Xarai. E o que é o Xarai? Me disseram qué "é o nome que o Islã dá ao seu código de leis". De acordo com esse Estatuto, são punidos com apedrejamento os adúlteros, adúlteras e os homossexuais.
Tudo bem. As leis são feitas (algumas mal feitas) para serem obedecidas.
Ora, se o Alcorão, o Livro Sagrado, não castiga os adúlteros com a pena capital, não seria o caso de se abolir, de vez, esse tipo de punição, livrando a iraniana e outros partrícios seus desse martírio?
Lembro que Jesus, mesmo conhecendo o envolvimento da samaritana com cinco homens, não a mandou para a forca. Perdoou-lhe os pecados.
Peço a Maomé que livre Sakineh Mohammad Ashtiani, a iraniana adultera, da morte.
Ainda prevalece a sábia observação de Pascal, segundo a qual "o coração tem razões que a própria razão desconhece".
Como estaria o coração da iraniana condenada no momento em que resolveu "mudar" de leito? Isso foi devidamente apurado?
O mundo confia na generosidade do governo do Irã, tão cioso na defeza dos Direitos Humanos.
O presidente Amahdinejad deveria ler um dos livros mais aplaudidos quando o assunto é aplicação correta das penas aos criminosos de todos os quilates.
Falo do livro de Cesare Beccaria, Dei delitti e delle pene [Dos delitos e das penas] que, já no século 18, condenava, com argumentos procedentes e contundentes, a aplicação da pena de morte.
Para o belo jurista italiano - tão amado pelos estudantes de Direito e por nós advogados - "a pena de morte é ainda funesta à sociedade, pelo exemplo de crueldade que dá aos homens"
Adulterou, morreu. Como entender isso em pleno Terceiro Milênio?
Maomé há de compreender o drama de sua filha Sakineh, e, na hora certa, atender os apelos que o mundo faz, neste instante, pelo abrandamento de sua pena.
*** *** ***
Nota - Surgem notícias de que o Irã recua na sua decisão de matar Sakineh. Mas mantenho o que escrevi acima.